Dois fatos marcantes tomaram conta das redes sociais, dos veículos de comunicação de massa e das rodas de conversa em todo o país durante a semana.
O primeiro, foi o espancamento brutal de uma mulher (Juliana Garcia dos Santos, 35 anos), dentro de um elevador, num condomínio de luxo, em Natal, no Rio Grande do Norte, realizada por um homem branco, “o bombado” (Igor Eduardo Pereira Cabral, 29 anos), de classe média, ex-jogador da seleção brasileira de basquete.
Após desferir 61 socos no rosto de sua namorada, em pouco mais de 30 segundos, de forma covarde, ele aguardou tranquilamente dentro do condomínio onde cometeu o crime, até ser conduzido educadamente pelos policiais até a delegacia policial, onde foi lavrado o flagrante e posteriormente decretada a prisão preventiva, tal a gravidade do ato cometido.
Pasmem, na delegacia, ele ainda alegou, cinicamente, que a razão de tamanha truculência e do quase feminicídio se deveu ao fato dele ser claustrofóbico.
E por conta disso havia surtado!
O segundo caso, foi o atropelamento e morte de uma outra mulher (Thais Bonatti de Andrade, de 30 anos – ciclista e trabalhadora) em Araçatuba/SP, por um juiz aposentado, (Fernando Augusto Fontes Rodrigues Junior, de 61 anos), também branco.
Após ser preso em flagrante, dirigindo completamente embriagado, após sair de uma boate, conforme identificado pelas autoridades policiais e testemunhas, com uma mulher nua sentada no colo, foi imediatamente ouvido em audiência de custódia, estabelecida uma fiança de 40 mil reais e liberado, sob a tipificação de “lesão corporal culposa”.
E alegou, também cinicamente, que só havia bebido duas cervejas e que tomava remédio para depressão.
Resultado: uma
Junto com a comoção e indignação que tomou conta do país, o que nos chama a atenção, é a impunidade e o privilégio expressos no tratamento dado a esses dois supostos criminosos, pelas autoridades policiais.
Embora os dois crimes tenham causado verdadeira comoção no país, tal a violência, covardia e irresponsabilidade, com a qual foram praticados, em nenhum momento foi negado a esses dois homens o direito ao devido processo legal.
Em nenhum momento vimos o apelo de autoridades policiais, jornalistas do mundo cão, ou parlamentares da bancada da bala afirmarem que “bandido bom é bandido morto”, ou que a legislação penal brasileira precisa ser endurecida para punir esses crimes.
Afinal, eram dois personagens oriundos da classe média alta brasileira, brancos e considerados “pessoas de bem”.
Isso mostra a seletividade com que a cidadania e o respeito aos direitos do cidadão são exercidos em nosso país.
Claro que o papel da polícia nos dois casos, não poderia ser outro, é isso que todo e qualquer cidadão espera de uma polícia cumpridora dos seus deveres. Mas, não dá para imaginar que tal comportamento ocorreria se esses dois homens fossem negros e os atos criminosos tivessem ocorrido na periferia de qualquer cidade brasileira.
Por muito menos que isso, um jovem trabalhador negro, (Guilherme Dias Santos Ferreira, de 26 anos), foi brutalmente assassinado, com um tiro na nuca, por um policial militar em São Paulo, ao correr para pegar um ônibus. O policial alegou que o confundiu com um marginal.
Ou se quisermos algo mais espetaculoso e comprovadamente racista, que foi a prisão de MC Pozo do Rodo, (suspeito de que suas músicas façam apologia ao crime). Importante dizer, tão somente, suspeito.
Enfim, esse é o Brasil que ainda carrega o racismo institucional de forma tão explícita e profunda, que nem precisa fazer muito esforço para vermos que impunidade e privilégios são coisas de brancos.
Toca a zabumba que a terra é nossa!