Era impossível segurar as lágrimas. Ao gravar “Arlindo Luz”, Mumuzinho não estava apenas diante de um microfone — estava diante de uma vida inteira de memórias, aprendizados e gratidão. A canção, composta por Prateado e Picolé, é muito mais que uma homenagem: é um abraço em forma de melodia para um amigo que sempre foi farol no caminho de tantos.
Arlindo Cruz, aos 66 anos, segue internado desde as complicações de um AVC em 2017. Mesmo distante dos palcos, sua presença continua viva no coração do samba e de todos que cruzaram seu caminho. “Ele sempre foi gigante, mas também simples, solícito e de mente aberta. Não tinha preconceito algum. Recebia todos de braços abertos, independentemente de gênero, raça ou etnia”, relembra Mumuzinho, com a voz ainda embargada.
A amizade nasceu nos bastidores do Esquenta, programa que unia música e histórias. Entre risadas e conversas que atravessavam horas, Arlindo deixava lições que Mumu carrega até hoje. “Ele me dizia para não me limitar ao pagode. Que eu podia cantar o que quisesse, misturar rap, samba… Ele me dava liberdade para ser eu mesmo.”
Esse vínculo era tão forte que Mumuzinho ainda guarda de cabeça a data do aniversário do amigo — 14 de setembro — e recorda com carinho cada festa que celebrou ao lado dele.
Para Arlindinho, filho do cantor, o gesto vai além da música: “Meu pai é uma inspiração. Essa homenagem, vinda de alguém que esteve tão presente, enche nosso coração de alegria.”
“Arlindo Luz” não é só uma canção. É a prova de que a amizade verdadeira atravessa qualquer distância, de que o amor e o respeito permanecem mesmo quando o tempo e a vida mudam os cenários. É o testemunho de que Arlindo Cruz segue iluminando, com sua arte e sua essência, cada canto do samba brasileiro.