Revista Raça Brasil

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Enciclopédia para Jovens e o protagonismo negro na história do Brasil

A Enciclopédia Negra para Jovens Leitores é a nova etapa de um projeto que, desde 2022, vem resgatando e reposicionando personalidades negras no centro da história do Brasil. A primeira edição, vencedora do Prêmio Jabuti na categoria Ciências Humanas, reuniu mais de 550 biografias que, por muito tempo, foram excluídas das narrativas oficiais. A obra ultrapassou o formato impresso, transformando-se em exposições que percorreram o Brasil e chegaram até Portugal, ampliando seu alcance e impacto cultural.

Nesta versão voltada ao público infantojuvenil, lançada em 2024, o conteúdo foi adaptado para leitores a partir de nove anos, apresentando 82 personagens em uma linguagem acessível, mas sem perder densidade histórica. Os autores Flávio dos Santos Gomes e Lilia Moritz Schwarcz, em parceria com a ilustradora Suzane Lopes, optaram por organizar as biografias em duplas temáticas, criando diálogos entre trajetórias separadas no tempo, mas unidas por afinidades profissionais ou de luta. Assim, o escultor Aleijadinho e a pintora Maria Auxiliadora da Silva se encontram no campo das artes, enquanto os escritores Cruz e Souza e Mário de Andrade se aproximam pelo legado literário.

O lançamento durante a Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), em Salvador, reforçou o caráter vivo e inacabado da enciclopédia. Lilia Schwarcz destacou que o projeto não pretende oferecer uma lista definitiva de personagens, mas provocar nos leitores a busca por outras histórias, muitas vezes escondidas em suas famílias, vizinhanças e comunidades. Essa abertura dialoga com a proposta original: desconstruir a ideia de que a história oficial é completa e incontestável.

Para Suzane Lopes, o trabalho tem também uma dimensão reparadora. Ao recontar vidas de figuras históricas negras muitas vezes retratadas de forma equivocada — ou nem sequer mencionadas —, a enciclopédia oferece ao público jovem uma narrativa de pertencimento e poder. Essa perspectiva, segundo ela, é fundamental para que crianças e adolescentes se reconheçam como parte ativa e criadora da história brasileira, fugindo de visões distorcidas ou marginalizadas.

O impacto esperado vai além da leitura individual. As autoras defendem a presença da obra nas escolas de todo o país, como ferramenta para ampliar o repertório de professores e estimular debates críticos sobre pluralidade e diversidade. A proposta é que o livro se torne um recurso pedagógico capaz de fortalecer a consciência histórica e o respeito às diferentes identidades.

Assim, a Enciclopédia Negra para Jovens Leitores não é apenas um livro ilustrado ou uma coletânea de biografias, mas um instrumento de transformação cultural. Ao aproximar jovens de histórias invisibilizadas, o projeto desafia as versões únicas da história nacional e reafirma a importância de incluir vozes negras como protagonistas no passado, no presente e no futuro do Brasil.

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