A denúncia realizada pelo influenciador digital Felca sobre a adultização/sexualização, nas redes sociais, tem causado um verdadeiro tsunami na sociedade brasileira. São mais de 30 milhões de visualizações até o momento.
Sem dúvida alguma, um escândalo criminoso contra as nossas crianças e adolescentes.
Mas, por trás dessa comoção há algo de podre e cínico que habita corações e mentes, de parcela da classe média brasileira. Isso porque, não é de hoje, que esse tipo de crime, praticado contra as crianças e adolescentes, vem sendo denunciado as autoridades, particularmente no Congresso Nacional.
E qual tem sido a grande dificuldade no enfrentamento desses abusos? É que esses crimes são praticados, majoritariamente, dentro das próprias casas das vítimas e realizado por familiares: pais, padrastos, tios, sobrinhos, amigos da família, etc.
E, lamentavelmente, tem a conivência de boa parte da própria família. Em particular, quando essa família é formada por “pessoas de bem”. Agora como veio a público pela internet, é como se ninguém tivesse nada a ver com isso. É como se esses abusos sexuais fossem praticados por extraterrestes.
Aqui vão alguns dados que comprovam o que estamos afirmando. Segundo o Ministério da Saúde, 84% das vítimas de abusos sexuais no Brasil são meninas, 56% delas são negras e 71% dos casos ocorrem dentro da própria casa da vítima.
Aliás, o abuso sexual e do trabalho de crianças e adolescentes é uma prática que acompanha a sociedade brasileira desde o período colonial, leia-se, escravidão. Hábito esse, presente até os dias atuais (via classe média urbana), por meio do qual faz uso dessas crianças no trabalho doméstico, invariavelmente oriundas das cidades interioranas e que muitas delas terminam sendo também usadas como iniciação sexual para os filhos dos seus patrões.
Esses dados são confirmados pela presidente do Instituto Liberta de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, Luciana Temer, bem como a delegada da Polícia Federal Erika Karoline de Castro Sabino de Oliveira, ao se pronunciarem no ciclo de palestras promovido pelo TRT/MG, sobre o “Enfrentamento ao abuso sexual e exploração de crianças”.
Segundo Luciana Temer “Quem é mais estuprado no Brasil é menina. São quatro estupros por hora, e a maior parte deles acontecem dentro de casa e são praticados por familiares”. Já a Delegada Erika Karoline afirmou que “O ano de 2023 teve o maior número de estupros da história e também foi o ano com maior propagação de conteúdo sexual na internet”.
Portanto, essa onda de indignação e de projetos que agora assola o Congresso Nacional, em que pese a sua importância, deve ser visto com cautela, pois nada há de novo no front. Não nos esqueçamos que boa parte desse mesmo Congresso tem defendido com unhas e dentes o “liberou geral” nas redes sociais, sob o argumento de que regulamentá-las é sinônimo de censura.
Em vez de proteger nossas crianças e adolescentes desses crimes um dos representantes do conservadorismo no Brasil, Senador Eduardo Girão, apresentou o Projeto de Lei PL 5435/2020 – chamado de Estatuto da Gestante, que na prática beneficia os estupradores, e por isso mesmo é também conhecido como “bolsa estupro”.
Enfim, com o objetivo escuso de continuarem se locupletando com as big tehcs, o que eles escondem de forma cínica e criminosa é que boa parte dos crimes cometidos contra as crianças e adolescentes, em particular os sexuais, tem origem, exatamente nas redes sociais, que monetizam e enriquecem muitos desses influenciadores, a exemplo do que foi denunciado pelo influenciador Felca.
Portanto, mais do que nunca, regulamentar as big techs é fundamental, para a defesa e proteção das nossas crianças e adolescentes e a manutenção da democracia.
Toca a zabumba que a terra é nossa!