Revista Raça Brasil

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Enem 2025: mulheres e pardos lideram inscrições, mas desigualdades resistem

As inscrições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 revelam um cenário marcante: 60% dos participantes são mulheres e 48% se autodeclaram pardos, consolidando tendências históricas na educação brasileira. Os dados, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), mostram ainda que pretos representam 12% dos inscritos, enquanto brancos somam 35%. Essa composição reflete mudanças sociais das últimas décadas, impulsionadas por políticas como a Lei de Cotas, mas também evidencia desigualdades que permanecem após a conclusão dos estudos.

A predominância feminina no exame – observada desde 2009 – contrasta com sua menor representação em carreiras de exatas e tecnologia. Enquanto mulheres são maioria em cursos como Pedagogia e Enfermagem, elas representam apenas 28% dos formandos em Engenharia, segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Especialistas apontam que fatores culturais e a falta de incentivo desde a educação básica contribuem para essa disparidade, mesmo com o crescente acesso ao ensino superior.

Para a população parda e negra, que juntas somam 60% dos inscritos, os números representam tanto conquistas quanto desafios. A política de cotas, completando 13 anos em 2025, ampliou significativamente o acesso ao ensino superior, mas não resolveu sozinha problemas como a evasão escolar e as dificuldades de permanência nas universidades. Dados do IBGE mostram que estudantes negros têm 30% mais chances de abandonar a graduação por necessidade de trabalhar em comparação com colegas brancos.

A menor participação masculina no Enem – apenas 40% dos inscritos – preocupa educadores. Pesquisas indicam que homens, especialmente nas periferias urbanas, abandonam a escola mais cedo para ingressar no mercado de trabalho informal. “Estamos criando uma geração de jovens homens com menos escolaridade, o que pode agravar desigualdades no futuro”, alerta a socióloga Ana Lúcia Silva, da Universidade de São Paulo.

Apesar dos avanços, especialistas ressaltam que o aumento na participação não se traduz automaticamente em equidade. “Ver mais mulheres e negros no Enem é importante, mas precisamos garantir que eles cheguem aos postos de decisão”, afirma o professor Carlos Augusto Santos, da Universidade Federal da Bahia. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que apenas 5% dos cargos executivos em grandes empresas são ocupados por pessoas negras.

Os números do Enem 2025 servem como termômetro das transformações sociais no país, mas também como alerta: o caminho para a verdadeira igualdade educacional e profissional ainda é longo. Enquanto políticas públicas não enfrentarem questões como evasão escolar masculina, falta de apoio à permanência universitária e barreiras no mercado de trabalho, o potencial transformador da educação continuará limitado. O desafio agora é garantir que o acesso se converta em efetiva mobilidade social para todos os grupos.

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