O avanço dos atores e atrizes negras nas últimas décadas é um testemunho da força da dramaturgia negra no Brasil. Do teatro ao cinema passando pela TV, e, por último, agora os musicais, esses têm conquistado espaço e reconhecimento, do mais simples ao mais exigente público, como pude presenciar na pré-estreia de “Dreamgirls” na semana passada, no teatro Santander. Depois de ter visto musicais com atores como Ícaro Silva, de ter assistido o musical Martinho da Vila, Elza Soares, Alcione, e mesmo, bem lá atrás, no Cabaré da Raça e Namíbia.
A chegada do musical “Dreamgirls” ao moderníssimo e disputado Teatro Santander, em São Paulo, é um divisor de águas, mostrando a ascensão da atuação de atores e atrizes negras no gênero dos mais difíceis da profissão, que são os musicais, que envolvem canto, dança, representação teatral, tudo em sincronia com música e melodia, no meu entender, o maior desafio da atuação artística.
A atriz Letícia Soares é um exemplo inspirador de talento e dedicação, que exigem os musicais. Com uma carreira marcada por papéis emocionantes e desafiadores, ela é hoje, sem sombra de dúvidas, a principal atriz musical brasileira. Sua interpretação como Celie em “A Cor Púrpura” é um marco na história do teatro musical brasileiro, e sua atuação em “Dreamgirls” é um testemunho de sua habilidade, paixão e perfeição.
O musical “Dreamgirls” é mais do que uma produção artística – é um reflexo da luta pela igualdade e reconhecimento na indústria cultural. A ironia do espetáculo é que, mesmo com o talento e reconhecimento de atrizes como Letícia Soares, ainda existem desafios e preconceitos a serem superados. O colorismo, as disputas e o racismo dentro da classe artística negra são temas importantes que o musical aborda com sensibilidade, força e emoção.
Ver trinta atores e atrizes negras sendo aplaudidas por um público diverso no templo sagrado como o teatro Santander foi épico, um momento histórico. É um testemunho de que a arte pode ser uma ferramenta poderosa para promover a igualdade e o reconhecimento. O musical “Dreamgirls” é um divisor de águas no gênero, mostrando que a representação e a inclusão são fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Essa produção é um lembrete de que os atores negros já podiam estar brilhando como fazem hoje Taís Araújo e Bela Campos na TV, brilhando na direção de espetáculos, como Márcio Telles, Elísio Lopes, e brilhando também, como Letícia Soares, em musicais como “Dreamgirls”.
O que sempre faltou e ainda falta neste país, em muitas áreas, é oportunidade de reconhecer o talento negro brasileiro. “Dreamgirls” fica em cartaz até novembro, é mais do que hora de celebrar a diversidade e a inclusão, e de reconhecer a contribuição dos atores e atrizes negras no Brasil.