O cenário musical brasileiro vive um momento de renovação, no qual vozes vindas da periferia ganham espaço e reconhecimento em grandes festivais. Um exemplo emblemático é a banda Punho de Mahin, que levará sua sonoridade punk e sua mensagem de ancestralidade negra ao palco do The Town 2025, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Formada em 2018, o grupo une força artística e engajamento político, mostrando que a periferia não apenas consome cultura, mas também a produz em alto nível.
Com Natália Matos no vocal, Paulo Tertuliano na bateria, Du Costa no baixo e Camila Araújo na guitarra, a banda carrega no próprio nome uma homenagem à história de luta da população negra. Luísa Mahin, referência direta, foi personagem ligada às revoltas antiescravistas do século XIX e mãe do abolicionista Luís Gama. Essa escolha não é apenas simbólica: ela traduz a essência de um trabalho musical que transforma a memória ancestral em combustível para a resistência cultural.
Punho de Mahin construiu sua trajetória em palcos alternativos, mas sempre com discurso firme. Canções que citam figuras históricas como Dandara dos Palmares e Carlos Marighella dão o tom de um repertório que não se limita à estética punk, mas dialoga com a história social do Brasil. O álbum Embate e Ancestralidade e o EP Racistas Otários nos Deixem em Paz consolidaram a identidade sonora do grupo, mostrando que é possível unir peso musical, consciência política e poesia urbana.
A presença da banda no Palco Quebrada, espaço do The Town dedicado à arte periférica, é mais do que uma conquista pessoal: é um sinal de mudança no próprio festival, que reconhece o valor de expressões culturais antes relegadas à margem. O punk do Punho de Mahin, nascido longe dos holofotes, agora ecoa para um público diverso, ampliando a representatividade negra e periférica dentro de um dos maiores eventos musicais do país.
Essa ascensão reflete não apenas talento individual, mas uma luta coletiva por oportunidades. Durante décadas, artistas negros e da periferia precisaram abrir caminhos na marra, enfrentando barreiras estruturais para mostrar sua arte. O sucesso da banda confirma que, quando esses espaços se abrem, a qualidade artística salta aos olhos — ou aos ouvidos.
Assistir a trinta ou mais artistas negros dividindo o palco e sendo celebrados é uma vitória cultural que transcende o entretenimento. A presença do Punho de Mahin no The Town 2025 reafirma que a música pode ser uma ferramenta poderosa de transformação social, capaz de resgatar histórias, fortalecer identidades e mostrar ao Brasil que as vozes da periferia têm muito a dizer — e agora, felizmente, são ouvidas com mais atenção.