Revista Raça Brasil

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A Loteria do Nascimento prova a inexistência da meritocracia

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Mauricio Pestana

CEO do Grupo Raça Comunicações. Jornalista, publicitário, cartunista e escritor, referência no país e no exterior no que diz respeito à produção de materiais didáticos nas áreas de diversidade, cidadania e direitos humanos. Foi secretário de Promoção da Igualdade Racial da Cidade de São Paulo e, atualmente, é diretor executivo da Revista Raça.

Mesmo após conquistar um espaço nas universidades, filhos de trabalhadores de baixa renda e da classe média continuam enfrentando obstáculos significativos no mercado de trabalho e na vida cotidiana

Esta semana fui convidado a participar do painel de abertura de lançamento do livro A Loteria do Nascimento. Foi um evento marcante reunindo pouco mais de 300 pessoas, incluindo figuras ilustres como a socióloga Sueli Carneiro e o secretário de redação da Folha de São Paulo, entre outros.

O debate que contou com a presença dos autores Michael França, vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico, doutor em Teoria Econômica pela USP e coordenador do Núcleo de Estudos Raciais do Insper. Foi visiting scholar nas universidades de Columbia e Stanford. É fellow da Blavatnik School of Government, da Universidade de Oxford. E o coautor Fillipi Silva, pesquisador e pós-doutorado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco, mestre em Sociologia e graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas. Também é pesquisador vinculado ao Núcleo de Estudos Raciais do Insper.

A obra que, aliás, poderia ser parte da própria biografia dos autores que, do ponto de vista acadêmico, superaram todos os obstáculos curriculares, mas são negros e expõem uma verdade inconveniente sobre a sociedade brasileira: o ponto de partida define quase tudo, e a educação, embora seja importante, não é suficiente para eliminar as desvantagens herdadas.

Os autores mostram que, mesmo após conquistar um espaço nas universidades, filhos de trabalhadores de baixa renda e da classe média continuam enfrentando obstáculos significativos no mercado de trabalho e na vida cotidiana, e afirmam: “A crença de que o diploma bastaria, ele abriria portas, apagaria as desvantagens históricas, recompensaria o esforço, é balela. O ponto de partida, o lugar de onde cada um começa a corrida da vida, continua a ser determinante no sucesso total da carreira.”

No mercado de trabalho, os recém-formados de origem popular continuariam a enfrentar um terreno mais arenoso e inclinado do que seus colegas das elites. Não têm quem os indique antes da entrevista. Não possuem os sinais de pertencimento que se ensinam em certas bolhas, nem a liberdade financeira para recusar oportunidades ruins, fazer estágios não remunerados ou investir em educação adicional.

A publicação é um convite à reflexão sobre a sociedade em que vivemos, onde o nascimento e as condições de vida são os maiores determinantes dos resultados alcançados ao longo da vida. É uma crítica à ideia de que a meritocracia é a única responsável pelo sucesso ou fracasso de uma pessoa. Em vez disso, os autores destacam a importância das circunstâncias e do contexto em que uma pessoa nasce e cresce.

A presença de intelectuais negros e brancos, no lançamento do livro, demonstra a importância da discussão sobre as desigualdades sociais e raciais no Brasil. A obra é um chamado à ação para que possamos questionar e mudar a forma como a sociedade funciona, de modo que o ponto de partida não seja mais o determinante dos resultados alcançados.

O livro A Loteria do Nascimento é uma contribuição importante para a discussão sobre as desigualdades sociais e raciais, mostrando nossos desafios de forma crítica sobre a sociedade em que vivemos, na busca por soluções para promover a igualdade e a justiça social.

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