Maragogipinho, pequeno povoado de pouco mais de 3 mil habitantes no município de Aratuípe, no Recôncavo Baiano, abriga um dos maiores patrimônios da arte popular brasileira: a cerâmica. Com cerca de 200 olarias, a localidade é reconhecida como o maior polo cerâmico da América Latina, fruto de um saber moldado há gerações por tradições afro-indígenas.
Nesse cenário de barro, resistência e memória, destaca-se o mestre ceramista Almir Lemos, artista que transforma argila em formas poéticas. Sua obra chamou a atenção da renomada artista plástica Adriana Varejão, que o descreveu como “um artista da cerâmica muito sensível, extremamente sofisticado e comprometido com sua pequena produção” após visitar a comunidade e conhecer seu ateliê.
Almir se prepara para um novo capítulo em sua trajetória: será um dos destaques da galeria baiana Paulo Darzé na SP–Arte Rotas 2025, que ocorre de 28 a 31 de agosto, na ARCA-SP, em São Paulo. A presença do ceramista no evento reforça a importância da produção artesanal do Recôncavo no cenário da arte contemporânea brasileira.
Segundo o artista, cada peça nasce do diálogo direto com a matéria-prima. “No meu caso, o barro é bruto, não tem como eu direcionar. Por isso as peças sempre são únicas, porque é o barro que direciona, eu sou apenas o condutor”, afirma. Essa relação orgânica resulta em obras que traduzem território, ancestralidade e pertencimento.
A cerâmica em Maragogipinho vai muito além do simples ofício artesanal. É um processo coletivo, em que cada etapa tem um guardião: os barreiros retiram a argila, os amassadores preparam o barro, os empeladores moldam as peças, os mestres ceramistas dão forma e identidade, e as brunideiras finalizam polindo e pintando antes da queima. Cada objeto carrega a marca de um trabalho compartilhado e de um legado cultural vivo.
Ao levar sua produção para a SP–Arte Rotas, Almir Lemos projeta a tradição de Maragogipinho para o circuito nacional, reafirmando a potência da cerâmica baiana como expressão artística sofisticada e contemporânea, sem perder sua raiz comunitária e ancestral.
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