O show de Ludmilla no The Town, neste domingo (14), foi mais do que música: foi um ato de coragem e representatividade. A cantora transformou um episódio doloroso vivido no Rock in Rio de 2024 em combustível para uma apresentação marcante, onde fez questão de se posicionar sobre a diferença de tratamento entre artistas brasileiros e internacionais nos grandes festivais.
No ano passado, Ludmilla viu seu show ser prejudicado ao ser impedida de usar a passarela planejada para sua performance no palco principal. A estrutura, que era parte essencial de todo o espetáculo, foi vetada em cima da hora, e o espaço reservado ao artista internacional da noite acabou restringindo sua liberdade criativa.
“O artista principal da noite segurou a passarela para ele, e eu fiquei sabendo disso só no dia. Tinha pensado o show todo em cima da passarela, investi muito e fiquei muito chateada”, relembrou.
No The Town, Ludmilla não quis correr o mesmo risco. Decidiu ser atração principal do palco The One para garantir que nada limitasse sua expressão artística. Mais do que uma escolha de palco, foi um posicionamento claro: o de não aceitar menos do que merece.
“Por causa desse trauma, decidi que queria ser atração principal nesse palco, para ficar mais à vontade para me expressar.”
A força de se posicionar
Ao denunciar a discrepância no tratamento entre artistas nacionais e estrangeiros, Ludmilla trouxe à tona um tema que precisa ser discutido: o valor da música brasileira e o respeito aos que constroem a cena cultural no próprio país.
“É uma diferença discrepante, chega a ser feia. O público está no festival também para nos ver, e nós entregamos um show à altura.”
Esse tipo de posicionamento não é apenas pessoal, mas coletivo. Quando uma artista do porte de Ludmilla fala, ela abre caminhos para que outros artistas brasileiros também tenham voz, respeito e condições iguais de trabalho.
Representatividade que inspira
Em um gesto simbólico, Ludmilla inverteu a lógica dos festivais: em vez de ser convidada por artistas internacionais, ela convidou a americana Victoria Monét para dividir o palco. O momento não foi apenas uma celebração da amizade entre as duas, mas também uma afirmação de que a música brasileira tem potência suficiente para atrair e dialogar com o cenário global.
Muito além do show
Mais que uma performance, Ludmilla deixou uma mensagem: ocupar palcos, reivindicar direitos e se posicionar são formas de resistência e representatividade. Cada vez que uma artista preta, brasileira e mulher como ela se recusa a aceitar tratamento desigual, abre portas para que a próxima geração encontre um espaço mais justo e respeitoso.
No The Town, Ludmilla provou que sua música é força, mas sua voz também é luta — e essa união é o que faz dela um dos nomes mais importantes da música brasileira hoje.