Com milhões de seguidores, obras em museus, coleções em eventos de moda e até uma pousada em meio à floresta, We’e’ena Tikuna construiu muito mais do que uma carreira: levantou um manifesto de representatividade. Sua trajetória é marcada por coragem, superação e pela missão de mostrar que os povos indígenas podem – e devem – ocupar todos os espaços.
Nascida na Terra Indígena Umariaçu, no Alto Rio Solimões (AM), carrega no nome – “a onça que nada para o outro lado do rio” – a metáfora da vida que escolheu viver. Entre desafios, preconceitos e recomeços, ela seguiu sempre em frente, “nadando” contra a corrente para transformar sua arte em negócio, impacto social e inspiração.
Hoje, é artista plástica, estilista, palestrante e influenciadora digital com mais de 5 milhões de seguidores. Foi a primeira indígena a apresentar uma coleção no Brasil Eco Fashion Week, tem obras expostas no Museu Histórico de Manaus, ministra palestras no Brasil e no mundo sobre moda, biodiversidade e economia sustentável, e já firmou parcerias com gigantes como Natura, Google e Boticário.
Sua história, no entanto, começa bem antes da fama. Após o massacre de parte de seu povo nos anos 80, mudou-se com a família para Manaus. Ali, enfrentou o preconceito, mas também encontrou na arte sua forma de afirmação e sobrevivência. O artesanato nas feiras, as pinturas corporais e depois a moda foram abrindo portas que ela jamais imaginava atravessar.
Na pandemia, uma das iniciativas mais simbólicas nasceu: as bonecas indígenas. Produzidas manualmente, com trajes típicos e pinturas corporais, elas se tornaram uma ferramenta de educação e valorização cultural. O sucesso foi imediato: em poucos dias, centenas de unidades foram vendidas. Hoje, seguem disputadas em edições limitadas.
Mas o caminho nunca foi fácil. Entre golpes, trabalhos não pagos e promessas não cumpridas, We’e’ena precisou aprender a se posicionar no mercado sem perder a essência. Cercada de uma rede de apoio formada pela família e pelo companheiro, foi se fortalecendo degrau por degrau.
“Empreender é mais do que ter um negócio, é poder transformar vidas”, resume. Parte da produção de suas peças envolve mulheres de comunidades Tikuna, gerando emprego e renda. Mais do que vender moda ou arte, sua missão é inspirar, abrir portas e mostrar que sonhos podem atravessar qualquer rio – mesmo quando a corrente parece forte demais.
Em cada passo, We’e’ena carrega a força de sua origem e a esperança de que sua trajetória motive outras mulheres a resistirem, persistirem e acreditarem. “Nunca deixem de atravessar o rio”, diz. “Mesmo que seja pequeno, dele podem nascer grandes coisas.”