Por Giselle Rodrigues
Nas últimas semanas, diferentes episódios envolvendo mulheres em evidência escancararam um velho padrão social: o julgamento severo sobre as decisões femininas especialmente quando vêm acompanhadas de visibilidade, sucesso e liberdade. A cantora Iza, a influenciadora Virgínia Fonseca e a apresentadora Cariúcha foram alvo de intensas críticas nas redes sociais, e, em todos os casos, o ponto comum é o mesmo, o controle social e moral sobre o comportamento das mulheres.
A cantora Iza, ao revelar a dor de uma traição e a decisão de reatar com o pai de sua filha, tornou-se alvo de julgamentos e ataques, muitos deles vindos de outras mulheres. O mesmo público que a exaltou pela coragem de expor sua vulnerabilidade foi rápido em apontar o dedo quando ela escolheu perdoar. É o retrato de uma sociedade que cobra força, mas pune a emoção; que exige independência, mas condena o afeto. Para as mulheres, errar ou sentir é, ainda, um ato político.
Com Virgínia Fonseca, a história assume outro formato, mas a lógica é a mesma. Bastou uma viagem a Madri e rumores sobre um possível envolvimento com o jogador Vinícius Jr. para que a internet se transformasse em um tribunal. As especulações sobre a vida pessoal da influenciadora se sobrepuseram a sua trajetória profissional, reduzindo-a a comentários sobre comportamento e moral. A cobrança constante revela o quanto a sociedade ainda se incomoda quando mulheres exercem autonomia sobre seus corpos e escolhas.
No caso de Cariúcha, o julgamento assumiu tons ainda mais cruéis. A apresentadora, que recentemente viveu um breve envolvimento com João Augusto Liberato, filho de Gugu Liberato, e atualmente namora Alexis Couto, foi alvo de ataques racistas, etaristas e classistas. Muitos comentários se concentraram no fato de ela ser negra e mais velha, enquanto o atual parceiro é branco, jovem e de olhos azuis. Nas redes, não faltaram insinuações preconceituosas de que o rapaz só estaria com ela por interesse financeiro — evidenciando como o racismo estrutural e o machismo seguem determinando quais relacionamentos são “aceitáveis” aos olhos do público.
Essas situações revelam como o machismo e o racismo seguem entrelaçados nas dinâmicas de julgamento público. E, talvez o mais doloroso, é que muitas dessas críticas vêm de outras mulheres, reforçando um sistema que as coloca em competição e nega a todas o direito à liberdade emocional. O patriarcado não sobrevive apenas pela dominação masculina, mas também pela reprodução inconsciente de suas normas — inclusive entre as próprias mulheres.
Julgar uma mulher por perdoar, amar, envelhecer ou escolher quem deseja é perpetuar o controle sobre sua autonomia. Iza, Virgínia e Cariúcha não apenas enfrentam as pressões da fama, mas também o peso simbólico de representar o que ainda se espera e o que não se tolera de uma mulher na sociedade.
Mais do que casos isolados, suas histórias expõem o mesmo dilema coletivo: enquanto o discurso público prega empoderamento, a prática ainda insiste em punir quem ousa ser livre. A verdadeira revolução feminina talvez comece quando deixarmos de cobrar perfeição e passarmos a exercer empatia.
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