Em data recente (04 de agosto de 2025), a Fundação Maria Cecília Solto Vidigal, juntamente com o Datafolha, divulgou uma pesquisa detalhada sobre a prática do racismo contra crianças de até 6 anos de idade nas creches e pré-escolas no Brasil.
Simplesmente estarrecedor, se não fosse no Brasil.
Os dados apresentados no relatório intitulado – “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida”, indicam que 16% das crianças até 6 anos, algo próximo de 3 milhões de crianças são vitimas dessa barbaridade que continua vicejando no país – o racismo.
Se a experiência racista já é grave entre adultos, pois deixa marcas indeléveis para o resto da vida, imaginem com crianças de tenra idade, incapazes de se defenderem ou poder fazer frente a estes crimes praticados por adultos?
Isso é uma crueldade!
Ainda segundo a pesquisa, essa prática racista contra as crianças negras “impacta o desenvolvimento infantil, causando traumas e estresse tóxico, o que pode afetar a saúde mental, a aprendizagem e o comportamento da criança”, para o resto de suas vidas.
Exemplo desse estrago, está presente no relato feito pela escritora, educadora e vereadora por Santo André/SP, Doutora Kiusam Oliveira, no Instagram do advogado Marcelo Colen, no último dia 17 de setembro (com mais de 150 mil visualizações).
Nesse vídeo, a escritora descreve a brutalidade, misturada com um certo sadismo, da qual ela foi vítima quando tinha apenas 6 anos de idade, num colégio de freiras da cidade de Santo André no estado de São Paulo.
Segundo a escritora, ela foi exposta nua, no banheiro da escola. Obrigada a tomar banho com água praticamente gelada, na frente dos seus 27 coleguinhas, por ter feito xixi na sala de aula, após ter seu pedido para ir ao banheiro negado pela diretora, mesmo possuindo um atestado médico que indicava que a mesma tinha incontinência urinária.
Além disso, após chorar copiosamente, foi brindada pelas demais crianças com o refrão – “a macaca está pelada, a macaca está pelada, a macaca está pelada…”. Para completar essa cena de horror, a madre superiora encerrou o episódio sentenciando: “É assim que todo preto deve ser tratado”!
Ou seja, a pessoa adulta, no caso uma religiosa católica, educadora, dirigente de uma instituição escolar, que deveria dar o exemplo de compreensão, acolhimento e generosidade para com uma criança de 6 ano, agiu de forma cruel e sádica, fazendo valer aquilo que está no cerne da colonização brasileira – o racismo puro e simples.
Esse fato mostra e a pesquisa confirma o quanto fatos como esses impactam as crianças para o resto de suas vidas. Passados, mais de 50 anos, a escritora Kiusam Oliveira, apesar de todas as superações, lembra com detalhes do ocorrido que com certeza a magoou muito.
Neste sentido, tanto a pesquisa quanto o relato contundente da escritora, mostram como o racismo continua presente na sociedade brasileira de uma forma repugnante e atingindo os nossos entes queridos mais frágeis que são as crianças. Confirmando aquilo que o movimento negro vem afirmando a décadas de que as crianças negras tem sido os principais alvos desse crime de lesa humanidade.
Portanto, não esqueçamos, racismo é crime, precisa ser combatido e punido em todos os espaços, em particular nos locais onde nossas crianças estão sendo socializadas. E por isso mesmo temos que ficar atentos não só a qualidade do ensino que as nossas crianças precisam ter, mas sobretudo aos sinais que elas estão emitindo quando são vitimas de discriminações raciais.
Toca a zabumba que a terra é nossa!






