Documentário sobre a Liga dos Canelas Pretas tem sessão única no Capitólio

O filme abre com um poema de Oliveira Silveira seguido por dados estatísticos sobre a população no Rio Grande do Sul e no Brasil, deixando claro que o mote é o futebol, mas a discussão é mais ampla, sobre racismo e a inserção do negro na sociedade gaúcha. O documentário “A Liga dos Canelas Pretas” tem pré estreia nesta quarta-feira na Cinemateca Capitólio. A exibição será às 19h30 com entrada franca. O documentário tem duração de 26 minutos e foi financiado pelo BRDE através da Lei Rouanet.

No início do século XX, os negros não eram aceitos nos clubes de futebol comandados por brancos. Surgiu assim, em Porto Alegre, aquela que ficou conhecida como a Liga dos Canelas Pretas. “Era a Liga de Futebol Porto-Alegrense, que a imprensa branca sacana na época apelidou de Liga dos Canelas pretas. E essa liga não era aceita pelos brancos”, explica Antonio Carlos Textor, roteirista e diretor do documentário.

Os clubes que integravam a liga eram de redutos negros de Porto Alegre como a Colônia Africana, hoje ironicamente chamada de bairro Rio Branco e a região da Ilhota – onde hoje estão o centro cultural batizado Lupicínio Rodrigues, criado naquela região, e o Ginásio Tesourinha, que tem o nome do importante jogador de futebol, negro, que foi ídolo do Sport Club Internacional, dos Eucaliptos e do Grêmio Foot Ball Porto-Alegrense, do Estádio da Baixada. A liga foi criada na década de 1910 e durou até 1924.

O documentário tem como foco a liga criada em Porto Alegre, mas resgata também os primórdios do futebol no Brasil.“O início do movimento negro em relação ao futebol foi em Rio Grande. Os marinheiros que vinham nos navios ingleses buscar e trazer carga no porto, nas horas vagas, pegavam uma bolinha e iam para um campo. Como eram poucos, eles convocavam os estivadores para completar o time e os caras começaram a tarar pelo futebol. E formaram um time deles”, conta Textor.

A maior dificuldade enfrentada por Textor foi conseguir imagens. “Ninguém tem”, sentenciou o cineasta após muita pesquisa. O filme se baseia em depoimentos, fotografias e algumas imagens encenadas. O senador Paulo Paim, o músico Giba Giba e o Joaquim Lucena, que foi coordenador de Manifestações Populares da Secretaria Municipal de Cultura, são alguns dos entrevistados.

Antônio Carlos Textor é cineasta há mais de 50 anos. Em 1963, lançou seu primeiro curta-metragem, “Um homem e seu Destino”, pelo Foto Cine Clube Gaúcho. De lá pra cá, são cerca de 30 títulos em sua filmografia.

“Minha preocupação sempre foi abordar temas sociais, principalmente temas urbanos, da população marginal, população pobre.”

Após o pré-lançamento, Textor planeja uma temporada de exibições do documentário, fora do circuito das salas de cinemas, em escolas e pontos de cultura. Outro projeto são cópias do filme, com legendas em espanhol, para distribuir para outros países da América Latina.

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