Como um pente de 48 centavos gerou um processo por racismo nos EUA

Uma americana processou o Walmart ao descobrir a maneira como estavam sendo exibidos os produtos voltados para clientes negros.

‘Foi um soco no estômago’, disse Essie Grundy sobre sua experiência no Walmart (Foto: Mark Ralston/AFP)

Uma americana está processando a rede de supermercados Walmart pela maneira como uma das lojas exibe produtos voltados para clientes negros.

Essie Grundy afirma que a filial do Walmart na cidade de Perris, na Califórnia, intencionalmente colocava produtos de uso específico de pessoas negras em vitrines fechadas à chave.

Sua advogada, Gloria Alred, disse à BBC que o processo contra a franquia é por discriminação e humilhação. Segundo Alred, Grundy foi ao Walmart para comprar um creme especial para pele negra e viu que o creme e outras mercadorias para cabelos crespos estavam em uma vitrine fechada.

Os produtos estavam separados de outros voltados para clientela de outras etnias – que estavam em estantes abertas e tinham livre acesso.

“Quando perguntou a um funcionário sobre a diferença, ele disse que era uma orientação da matriz e que ele mesmo havia reclamado dessa política, mas que nada tinha mudado”, diz a advogada.

Alred (dir.) diz que a experiência foi humilhante para sua cliente (Foto: Mark Ralston/AFP)

Trancado

Grundy voltou ao mercado outro dia para comprar um pente que custava US$ 0,48 (R$ 1,52) e descobriu que o produto também estava trancado à chave.

Ela teve que chamar um funcionário para abrir a vitrine e pegar o pente. Ela então ouviu que teria que ser escoltada pelo funcionário até a caixa registradora para que pudesse comprá-lo.

“Ela sentiu como se tivessem lhe dado um soco no estômago ao presenciar as práticas discriminatórias”, diz a advogada. Ela afirma ainda que sua cliente pediu para falar com um gerente, mas suas queixas não foram ouvidas.

“É um caso claro de uma mulher negra que está sendo discriminada”, diz Alred. “Se ela quer comprar um produto, tem que procurar um funcionário da loja para abrir a vitrine fechada com cadeado, esperar que ele retire o produto e ir com ele até o caixa e só depois poder manuseá-lo.”

O Walmart disse, em nota, que é “sensível à situação”. “No entanto entendemos, como outras lojas, que existem certos produtos, como eletrônicos, para carros, cosméticos e de cuidados pessoais, que são sujeitos a segurança adicional”, afirma a empresa. “Essas determinações são feitas de acordo com a circunstância de cada loja.”

Alred reconhece que nem todas as lojas do Walmart têm os produtos para afrodescendentes sob chaves.

Mas “a ideia de que um gerente pode discriminar” não é tolerável, diz ela.

“Isso é baseado em um preconceito, a ideia de que afrodescendentes são mais propensos a roubar e a serem ladrões que outras raças”, afirma a advogada. Ela considera que a prática do Walmart mostra um desrespeito enorme por pessoas negras e é humilhante para sua cliente, pois a faz “ser vista como uma ladra.”

Grundy pede que o Walmart mude sua política, cubra os gastos de sua advogada e pague US$ 4 mil por indenizações em danos morais.

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