A ARTE AFRO-BRASILEIRA

Oswaldo Faustino escreve sobre a arte afro-brasileira. Confira

 

TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTO: Rafael Cusato | Adaptação web: David Pereira

Mestre Didi | FOTO: Rafael Cusato

Mestre Didi | FOTO: Rafael Cusato

Seja qual for a linguagem artística escolhida para expressar-se, uma grande quantidade de artistascolocou e coloca nas telas e em esculturas, modelagens ou instalações, de forma figurativa ou não, imagens, signos, cores e formas que registram suas vivências, seus sentimentos, suas crenças, as manifestações culturais de seus povos. Negro ou mestiço, homem ou mulher, hétero ou homossexual, cristão ou devoto de alguma religião de matriz africana, suas produções artísticas, geralmente, estão impregnadas de informações que os revelam. Por isso, a possibilidade de mencionar uma “arte negra”, mesmo que sincrética.

Nossas manifestações populares foram registradas, por exemplo, nas telas naif do compositor Heitor dos Prazeres (1898-1965), muitas delas adquiridas pela rainha Elizabeth. Os signos do candomblé estão em cores vivas nos quadros de Abdias do Nascimento (1914-2011), expressão máxima da militância negra brasileira dos séculos 20 e 21, assim como nas máscaras e esculturas de inspiração africana de Agnaldo Manoel dos Santos (1926 – 1962) e na arte emblemática do sacerdote do candomblé Mestre Didi (Deoscóredes Maximiliano dos Santos), filho de Maria Bibiana do Espírito Santo, a Mãe Senhora, famosa iyalorixá do Ilê Opô Afonjá, exaltada por poetas e intelectuais.

Impossível não mencionar artistas plásticos negros de gerações mais recentes que mantêm viva a herança pictórica afro, como Sidnei Lizardo, o Lizar (1939), cuja inspiração maior é a capoeira, elogiado pelo New York Times; Yêdamaria (1936), que em sua obra expressa a ancestralidade e a feminilidade; Octávio Ferreira de Araújo (1926), que foi assistente de Cândido Portinari e estudou na França, na China e na Rússia; o premiado Jorge dos Anjos (1957), autor de obras como o Monumento Zumbi Liberdade e Resistência – 300 anos,instalado na Avenida Brasil, em Belo Horizonte; Samuel Santiago (1951), autor de máscaras e obras inspiradas nos corpos negros, que ensinou arte a internos da Febem, entre tantos outros.

Não podemos esquecer também os artistas que se valem da linguagem da fotografia para revelar-se e nos revelar, como Walter Firmo, Bauer Sá, Wagner Celestino, Januário Garcia, Luiz Paulo Lima, Mario Espinosa e muitos outros. Enfim, com talento reconhecido ou não, milhares de mãos, mentes e almas negras foram e são fundamentais na construção desse monumento que se constitui nas tão aclamadas, mas igualmente tão pouco conhecidas, artes plásticas brasileiras.
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