A atualidade de um sonho

por Hamalli Alcântara

O profético discurso proferido em 28 de agosto de 1963 pelo Dr. King, nos degraus do Lincoln Memorial de Washington D.C., assistido por mais de duzentas mil pessoas, em reclame ao respeito dos direitos civis, em seu cerne carregava o desejo cristão da convivência harmoniosa entre negros e brancos. Talvez tenha sido muito mais uma construção utópica, um desejo realizável, como dizem as próprias palavras do Pastor King,

‘I HAVE A DREAM – EU TENHO UM SONHO’

Decorridos 58 anos, o Reverendo Raphael Warnock foi eleito pela Geórgia e se tornou o primeiro senador democrata negro eleito por um estado do Sul dos EUA, assumindo a cadeira em janeiro de 2021, lembrando que desde outrora as políticas de segregação nessa região foram extremamente cruéis, e ainda hoje sentimos nos laços sociais transpirar a maligna herança. A vitória do reverendo tem uma carga simbólica importante, não só para os americanos, mas para todo afrodescendente do mundo. Vale ressaltar como curiosidade que Raphael Warnock é pastor da Igreja Batista Ebenézer, em Atlanta, a mesma época em que pregava Martin Luther King.

Através do discurso ético e da sensibilidade cristã do Dr. King, podemos balizar e comparar estruturas que permanecem racistas, nações que reanimam sentimentos radicais, como também observar a atualidade da sua fala.

No início o Dr. King faz alusão à empreitada de Abraham Lincoln:

“Há cem anos, um grande americano, sob cuja simbólica sombra nos encontramos, assinou a Proclamação da Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um grande raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para pôr fim à longa noite de cativeiro.”

Em comparação com a Abolição da Escravatura em 1888 no Brasil, aconteceu por décadas essa mesma exaltação do grande feito heroico da Princesa Isabel Cristina Leopoldina de Bourbon e Bragança, libertadora dos escravos, em tese.

“Mas, cem anos mais tarde, devemos encarar a trágica realidade de que o negro ainda não é livre. Cem anos mais tarde, a vida do negro está ainda infelizmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. E cem anos mais tarde, o negro ainda vive numa ilha isolada de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o negro ainda definha nas margens da sociedade americana estando exilado em sua própria terra. Por isso, estamos aqui hoje para dramatizar essa terrível condição.”

O fragmento acima não é parte do discurso do Reverendo Raphael na sua posse de senador, e sim continuação do discurso de Dr. King em 1963, e vale ressaltar, com dissabor, a incrível atualidade dessas palavras.

Comemoramos no meio dia de 20 de janeiro de 2009 o início da presidência de Barack Obama, comemoramos no dia 21 de janeiro de 2021 a posse de Kamala Harris como vice-presidente e a do senador Warnock. Mas vale ficar atentos, porque, mesmo frente a tantas conquistas e tantas vitórias, o discurso do Dr. King continua cruelmente atual.

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