A Bíblia e a previsão de que 2020 será regido por Xangô
Conforme revelação dos dois oráculos sagrados mais utilizados nas religiões afro-brasileiras, búzios e opelê-ifá, o ano vindouro será regido pelo Orixá Xangô.
Qual a importância desta revelação para os milhões de afro-religiosos(as) e para a vida humana em 2020?
Antes de tentarmos responder esta indagação, convém lembrar que oráculos sagrados constituem um dogma altamente relevante para várias religiões.
Consta no Antigo Testamento: “E perguntou Saul ao Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas” (Livro 1 de Samuel, capítulo 28, versículo 6).
Urim e Tumim, duas pedras utilizadas como meios para receber revelações, são citadas em várias passagens bíblicas, em Levítico, Esdras, Neemias, Deuteronômio, Êxodo e Números.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias acredita que Urim e Tumim foram utilizadas pelo profeta Joseph Smith Jr. para decifrar e traduzir o Livro de Mórmon, publicado em 1830 e com base no qual foi fundada a Igreja Mórmon.
O jejum, praticado no cristianismo, judaísmo, islamismo, budismo e induísmo, busca transformar a própria mente humana num oráculo, com o objetivo de obter revelações e visões.
Oráculos cabalísticos inspiram diferentes confissões religiosas, ao passo que o I-Ching, chinês, configura uma importante fonte de consulta para o taoísmo religioso e o confucionismo (que não é propriamente religião, mas uma filosofia).
Dito isto, recordemos que os símbolos europeus de justiça, a deusa romana Iustitia/justiça (olhos vendados, segurando uma balança) e a deusa grega Diké, (olhos abertos, espada numa mão e balança em outra) estão associados à ideia de inatividade, inércia.
Xangô, no entanto, tem olhos abertos, porta um machado com duas lâminas e pode ser, ao mesmo tempo, sereno (como o batá – toque comum a vários Orixás) ou exaltado como o alujá, toque litúrgico exclusivo dele.
Mas há um outro traço característico deste Orixá: Xango é sinônimo de bem estar coletivo!
A felicidade de uma pessoa não pode ser construída sobre a infelicidade de outra. Ao contrário: a felicidade pessoal, plena, depende e está intimamente relacionada à felicidade da família, da comunidade, de um povo inteiro.
A preocupação com o bem estar de seu povo é a síntese do Orixá Xangô!
Não é por acaso que em algumas regiões do Brasil a palavra Xangô é sinônimo de religião afro-brasileira, tamanho é seu prestígio.
O valor da ética, da solidariedade humana e a importância de defendermos os outros como nos defendemos a nós próprios é o que podemos projetar para 2020!
“Ká wòóo, ká biyè sí”!!! (Podemos olhar Vossa Real Majestade???)
Hédio Silva Jr., Advogado, Mestre e Doutor em Direito pela PUC-SP, ex-Secretário de Justiça do estado de São Paulo (2005-2006), Coordenador-Executivo do IDAFRO – Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-brasileiras, é Ogã e Colunista da Revista Raça