Revista Raça Brasil

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“A Coisa Ficou Preta”: Arte urbana contra o racismo ocupa os muros do país

O lambe-lambe, técnica simples e acessível de colagem de pôsteres em espaços públicos, ganhou novos significados nas mãos de um artista de Maceió que transformou muros em veículos de denúncia, afirmação e resistência. Suas frases curtas e potentes questionam o racismo estrutural e celebram a negritude, criando um diálogo direto com quem passa pelas ruas.

Gleyson Borges, artista urbano mais conhecido como A Coisa Ficou Preta, passou a reconhecer sua negritude apenas há alguns anos, após um processo de conscientização impulsionado pelas letras de rap que ouvia desde o período escolar. Ele considera que uma das maiores consequências do racismo é justamente impedir que pessoas negras se enxerguem como realmente são. A partir dessa tomada de consciência, decidiu retribuir através da arte: desde 2018 utiliza o lambe-lambe nas ruas como instrumento para despertar a negritude, fortalecer o empoderamento e promover diálogos e reflexões voltados ao povo preto.

Suas intervenções carregam mensagens como “Já fomos reis e rainhas, podemos ser de novo” e “Se acostume a nos ver com as correntes de ouro”, que ressignificam símbolos, provocam reflexões e afirmam a presença negra. Para o artista, ocupar os muros é também ocupar a narrativa, devolvendo às ruas um olhar que muitas vezes é silenciado.

A escolha pelo lambe-lambe não foi por acaso. Além de ser uma linguagem popular, rápida e barata, ele enxerga nessa prática a possibilidade de espalhar ideias que não cabem nos espaços institucionais da arte. Cada cartaz que incomoda, que é rasgado ou removido, confirma que a mensagem cumpriu sua função: provocar reações.

As redes sociais também ampliaram o alcance de sua obra, levando as frases que nascem nos muros de Maceió para todo o Brasil. O impacto vai além dos elogios e compartilhamentos: o artista também enfrenta ataques racistas e críticas, o que, segundo ele, só reforça a importância de continuar.

Mais do que denúncia, seu trabalho também celebra conquistas, alegria e vida. Em suas palavras e imagens, a negritude não aparece apenas como resistência, mas como potência criadora. Assim, cada lambe colado nas ruas se torna uma convocação coletiva para enxergar, valorizar e resgatar a identidade negra.

 

Essa publicação é fruto de uma parceria especial entre a Revista Raça Brasil e o Fórum Brasil Diverso, evento realizado pela Revista Raça Brasil nos dias 10 e 11 de novembro, que celebra a diversidade, a cultura e a potência da música negra brasileira. Não perca a oportunidade de participar desse encontro transformador — inscreva-se já http://www.forumbrasildiverso.org

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