O Festival de Inverno de Poços de Caldas recebe nesta quinta-feira (24/07) o contundente monólogo “A coisa tá ficando preta”, escrito e interpretado por Aldo Vieira. Com direção de Leidy Nara, a peça de 45 minutos transforma experiências pessoais do ator em um potente manifesto sobre as cicatrizes do racismo na sociedade brasileira. A apresentação no Teatro Benigno Gaiga (Urca), às 20h, coloca em cena questões urgentes sobre desigualdade racial em um país que ainda não superou as heranças coloniais.
Mais do que um espetáculo teatral, a obra se configura como um ato político – como define o próprio Vieira: “Este trabalho fala sobre resistência e transformação, usando a arte como ferramenta de reparação histórica”. A montagem já percorreu festivais no Rio de Janeiro e Minas Gerais, ganhando relevância por dar voz a narrativas negras frequentemente marginalizadas no cenário cultural brasileiro.
A força do monólogo reside justamente em sua capacidade de articular o pessoal com o estrutural. Vieira constrói uma performance que expõe, sem didatismos fáceis, os mecanismos cotidianos de discriminação racial – desde os mais explícitos até aqueles sutilmente naturalizados. A direção de Leidy Nara potencializa esse discurso através de uma linguagem cênica que mescla teatro, performance e elementos audiovisuais.
Com classificação indicativa de 14 anos, o espetáculo se dirige a um público jovem e adulto capaz de refletir criticamente sobre as dinâmicas sociais brasileiras. Os ingressos (R$20 inteira/R$10 meia) estão disponíveis no Sympla e na bilheteria do teatro, com expectativa de lotação – sintoma do crescente interesse por produções que abordam temas sociais através da arte.
“A coisa tá ficando preta” chega ao festival em um momento particularmente sensível do debate racial no país, quando discussões sobre reparação histórica e representatividade ganham cada vez mais espaço. O espetáculo se insere nesse contexto não como resposta definitiva, mas como provocação artística que exige do espectador mais do que aplausos – exige reflexão e, possivelmente, ação.
A equipe técnica – composta por Pedro Delboni (som e vídeo), Marcelo Oliveira (produção) e João Paulo Ferreira (fotografia) – completa uma produção que demonstra como o teatro independente brasileiro continua sendo espaço fundamental para vozes que desmontam, peça por peça, as estruturas de poder e exclusão. Neste inverno, a cultura em Poços de Caldas esquenta com um espetáculo que não teme nomear o racismo – e mostrar que, de fato, a coisa está ficando cada vez mais preta, no melhor sentido da palavra.