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A COP30 não pode ignorar as desigualdades

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Lucio Vicente

Formado em Comunicação Social pós-graduado em Gestão de Marketing, especialista em Socioeconomia e MBA em Economia e Gestão do Agronegócio. Diretor geral do Instituto Akatu. Coautor do livro ‘O Encontro com a Sustentabilidade: Contribuições do Psicodrama’.

A crise climática, que impacta várias regiões do planeta de maneira acelerada, requer ações globais e imediatas para atenuar seus efeitos. A COP30, que ocorrerá no Brasil em 2025, é uma das principais plataformas globais para lidar com essa emergência. Até agora, a primeira manifestação pública do Governo, com a carta do presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, destacou pontos vitais no enfrentamento da mudança climática, como a diminuição das emissões de gases que intensificam o efeito estufa e a conservação da biodiversidade. Contudo, essa carta falha ao não abordar questões fundamentais, como a desigualdade climática e o racismo ecológico, podem comprometer os esforços de mudança estrutural necessários para lidar com essa crise de maneira eficiente e equitativa.

A desigualdade climática diz respeito à percepção desproporcional das consequências das alterações climáticas por diversos grupos sociais, particularmente aqueles que historicamente possuem menos meios para se proteger dos efeitos ambientais. Frequentemente, comunidades negras, indígenas e periféricas são as mais impactadas por desastres naturais, tais como secas, enchentes e falta de recursos básicos como água e energia, o que evidencia a desigualdade social, mas também um problema de direitos humanos.

Apesar da carta do presidente da COP30 tratar de vários assuntos relevantes, como a mudança para as energias renováveis e a demanda por uma ação conjunta contra as alterações climáticas, ela ignora questões cruciais ligadas à justiça climática e principalmente a vivência prática de uma país tão desigual como o Brasil. Não mencionar os aspectos da desigualdade climática em momentos de posicionamentos e direcionamentos sobre a COP pode não só ocultar, mas ignorar o fato de os impactos sofridos por grande parte da população mundial.

Logo após o documento ser publicado, entidades como a Oxfam Brasil e o Geledés – Instituto da Mulher Negra enfatizaram isso; de que a ausência de referência ao conceito de racismo ambiental e a necessidade de tratar a desigualdade climática de forma interseccional, considerando aspectos como raça, gênero e posição social não foram mencionados. A ausência desses assuntos é percebida como um fracasso de largada, na busca por promover uma ação climática global que seja verdadeiramente inclusiva e equitativa.

O racismo ambiental é um fenômeno que ilustra como as comunidades mais vulneráveis são impactadas de forma desproporcional pela deterioração do meio ambiente e pelas alterações climáticas. Essas questões precisam ser amplamente discutidas em fóruns globais, como a COP30, pois sem uma análise aprofundada de como a desigualdade racial e social se relaciona com a crise climática, as soluções sugeridas podem apenas manter ou até agravar as desigualdades já existentes.

Não precisamos de muito esforço para entender que impactos climáticos como as enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul em 2024, afetaram muito mais pessoas que residem nas periferias das cidades afetadas. O efeito desmedido das alterações climáticas em grupos desprivilegiados não pode ser considerado um tópico secundário nas discussões mundiais e principalmente pelas lideranças brasileiras. A justiça climática não se limita a atenuar as consequências ambientais, mas também a combater as disparidades sociais e econômicas que mantêm a vulnerabilidade dos menos privilegiados.

A COP30 não deve ser um momento negligenciado e o debate de questões fundamentais como a desigualdade climática e o racismo ambiental deve estar dentre as prioridades, e nós brasileiros temos uma grande oportunidade de pressionar a temática de desigualdade social como eixo central de qualquer compromisso ou decisão coletiva. Bastou vermos o quanto a eleição de Trump nos Estados Unidos movimentou a agenda de retrocessos em diversos campos sociais, para comprovar que temos de disseminar o interesse das pessoas pelo tema e seu envolvimento com a temática ambiental, pois no fim do dia, a ignorância coletiva sobre os impactos ambientais, serão uma nova forma de segregar e discriminar.

Formado em Comunicação Social pela Universidade Anhembi Morumbi, possui pós-graduação em Gestão de Marketing pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, especialização em Socionomia pela ABPS/FEBRAP, e MBA em Economia e Gestão do Agronegócio pela Fundação Getúlio Vargas-FGV. Atual diretor geral do Instituto Akatu. Conquistou o Prêmio Ernst & Young de Sustentabilidade com o case de apoio a produtores locais em 2019; de 2014 a 2018, recebeu cinco prêmios consecutivos pela Revista Época Reclame Aqui, como melhor atendimento ao cliente entre as redes de supermercados e atacados do país. Colunista da Revista Raça. Conselheiro da ÉNóis Conteúdo. Coautor do livro ‘O Encontro com a Sustentabilidade: Contribuições do Psicodrama’.

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