A cor púrpura de Cynthia Erivo

Atriz renomada no teatro estreia no cinema e lança filmes simultâneos

Por: Flávia Cirino

[TEXTO DA EDIÇÃO 204/2019]

Ela era desconhecida, pelo menos para o público de cinema. Mas, para os amantes do teatro de ambos os lados do Atlântico, Cynthia Erivo já é uma estrela – um talento fenomenal que ganhou o Prêmio Tony de Melhor Atriz em um Musical em 2016, graças a sua maravilhosa interpretação na Broadway no papel de Celie Johnson em “A Cor Púrpura” (produção da Menier Chocolate Factory). Seu papel na peça foi imensamente aclamado pela crítica e mudou sua vida.

“Mudou de verdade. E amei cada minuto. Eu não sabia que fazer um musical poderia resultar nisso. Acho que sou um caso especial, no sentido de ter acontecido desse jeito, mas acho que recebi um presente maravilhoso que abriu todas essas portas. E esses filmes chegaram a mim em decorrência disso, o que me deixa muito grata. Saí da RADA (Royal Academy of DramaticArt) em 2010 e as coisas foram muito sensacionais desde então – uma depois da outra”.

Nascida em Londres, em 1987, Cynthia estudou psicologia da música durante um ano até optar por suas verdadeiras paixões: cantar e atuar. Fez o teste para entrar na RADA e ganhou uma vaga na renomada escola de atuação. Trabalhou em seguidas produções até estrelar na Broadway depois de conseguir o papel de seus sonhos, como Celie. A atriz deixou o espetáculo em janeiro de 2017 e, desde então, concluiu três filmes e, agora, está trabalhando em mais um. Em “Maus Momentos no Hotel Royale” (de Drew Goddard) ela faz parte de um elenco de estrelas que inclui Jeff Bridges, Jon Hamm, Chris Hemsworth e Dakota Johnson.

Em entrevista exclusiva à RAÇA, ela destaca detalhes de sua carreira.

RAÇA: Tão pouco tempo, tanto trabalho. Inevitável ficar tensa ou você difere bem?

CYNTHIA ERIVO: Ah, é um momento maluco para mim. Estou esperando os dois primeiros filmes que fiz efetivamente entrarem no cinema. Quero que eles estreiem e estou imaginando o que as pessoas acharão deles. Adoro os dois. Muitas pessoas me perguntam: “O que você tem feito”? E a resposta é: “Estive trabalhando nesses filmes incríveis”.

Fale um pouco sobre o novo filme, “Maus Momentos no Hotel Royale”.

CYNTHIA ERIVO: Sete estranhos, cada qual com um segredo a esconder, se conhecem no Hotel El Royale no Lago Tahoe – um estabelecimento que ostenta o fato de estar sobre a fronteira dos estados de Nevada e da Califórnia, que o divide no meio – e, no decorrer de uma noite fatídica, todos terão uma última chance de redenção. Eu interpreto a Darlene, uma cantora que está passando por uma fase ruim, que faz uma parada no El Royale a caminho de uma apresentação em Reno.

Há muitas guinadas e reviravoltas, é tudo muito inesperado e muito excitante. Eu chamaria o filme de thriller de mistério, ambientado nos anos 1960, com um elemento sensacional de música. O Drew me colocou para cantar no filme, cantei ao vivo no set. Então, tudo o que você ouve quando eu canto foi feito ao vivo no set – sem gravação prévia – portanto, sou eu fazendo tudo aquilo. Foi incrível.

O Filme “As Viúvas” acaba de entrar em circuito. Como foi ser dirigida por Steve McQueen e atuar com a Viola Davis?

CYNTHIA ERIVO: O Steve é o tipo de cineasta que faz o que sente que é correto. Naquele momento ele queria ver quatro mulheres fortes mandando ver e sendo incríveis. E sinto que pode ter sido uma homenagem à sua esposa e à sua filha, ou pode ser que simplesmente, naquele momento, ele quisesse de fato ver mulheres fortes na tela – ou talvez
ambas as coisas.

É um filme que destaca mulheres fortes, sobretudo mulheres negras…

CYNTHIA ERIVO: Sim. Eu faço a Belle, só que ela não é viúva de verdade. Você não fica sabendo muita coisa sobre o antigo namorado ou marido dela, mas você sabe que ela está solteira e criando sozinha um filho. Ela mora em uma habitação pública em Chicago e sua vida não é fácil. A história é sobre um grupo de mulheres que se juntam para cometer um assalto. E elas fazem isso porque seus maridos haviam participado de um roubo que deu errado e foram todos mortos. Três das viúvas herdam uma dívida e precisam de dinheiro. Assim, elas decidem
assaltar para roubar o dinheiro de que precisam para resolver seus problemas. No meio do caminho, uma das viúvas conhece minha personagem, a Belle, que tem dois empregos –cabelereira e babá. Uma das viúvas a chama para ficar de babá, porque ela precisa ir a uma reunião com as outras duas mulheres e, quando minha
personagem chega à casa da viúva, está toda suada e ela pergunta à Belle: “Por que você está suada”? E a Belle responde: “Bem, porque vim correndo até aqui”. Daí, ela pergunta sobre a vida da Belle e percebe que ela poderia ser útil na equipe e é assim que ela é convidada para fazer parte do grupo. Assim, nós quatro acabamos cometendo o assalto. É muito bacana.

Você teve alguma preparação especial para esse trabalho?

CYNTHIA ERIVO: Tem umas acrobacias… Tombo uma mesa com meus pés, que bate em mim e eu caio no chão. Corro descalça na chuva, tudo o que acontece no carro fui eu que fiz, quando está chovendo a cântaros, a chuva é – fico ali, ensopada e sem sapatos. Gosto muito, porque, pessoalmente, trabalho muito meu físico. Treino muito e me mantenho em forma; então, fazer coisas físicas como estas, neste papel, é muito bacana. Por que eu deixaria alguém se divertir no meu lugar?

A música negra tem uma forte participação neste filme…

CYNTHIA ERIVO: Acho que canto mais ou menos cinco ou seis músicas da década de 1960 e há um pequeno aspecto, uma fala ou duas, que improvisei ali, na hora. O Drew escreveu a letra e então me pediu que eu compusesse a melodia para ela, que foi o que eu fiz. E depois, o resto, é padrão dos anos 1960. Tem uma música que o grupo The Supremes gravou e acho que há um número que inventamos juntos. Acho que a gente fez uma música, This Old Heart of Mine, 23 vezes, porque precisávamos de todas as tomadas diferentes. Então, cantei a canção 23 vezes, você apenas faz e pronto. E, você sabe, me deleitei com essa cena. Nunca vi nada igual. É uma tomada “única” para
todo mundo – uma cena de quatro, cinco minutos gravada de uma vez só. Ela vai do começo ao fim e é filmada por duas câmeras que se movem pelo set. Vi a versão não editada dela e ficou simplesmente brilhante. Nunca vi nada igual.

Como você chegou ao cinema?

CYNTHIA ERIVO: Foi tão estranho… Minha equipe me sobre o filme “As Viúvas” quando eu estava bem no meio da temporada de “A Cor Púrpura” na Broadway. A diretora de elenco foi ver a peça e acho que ela gostou do que eu estava fazendo. Ela falou sobre mim ao Steve e ele me contatou, marcaram uma reunião e a gente conversou. Tomamos um café da manhã em um hotel em Nova York. Sou fã incondicional do trabalho dele. Foi muito agradável. Gosto da energia dele e do jeito que ele tem com as pessoas e, sabe, pareceu quase que eu estava conversando com um padre, não me senti intimidada, mas sabia que estava na mesma sala que um titã. É impossível não saber.

O que aconteceu em seguida?

CYNTHIA ERIVO: Recebi um telefonema umas três ou quatro semanas mais tarde dizendo: “o papel é seu”. E ele não havia assistido à peça. Ele foi ver depois de me escalar. Lembro-me de que estava em uma loja da Starbucks em Nova York quando eles me ligaram. Tinha acabado de fazer meu treino e estava com minha motoneta – porque eu tenho uma motoneta Razor pequena que uso para me locomover – e minha equipe inteira estava no telefone, como sempre acontece quando me dão boas notícias, então foi uma teleconferência completa – tenho sete pessoas entre Los Angeles, Nova York e Londres. Então, estavam todos no telefone e me disseram que o papel
era meu, fiz a maior festa dentro dessa Starbucks em Nova York. Eu perguntei: “Vocês estão falando sério? O quê? Como? Quando aconteceu isso”? E eles responderam: “A equipe dele acabou de telefonar e ele quer escalar você”. E eu falei: “Ok! Ótimo. Eu topo!” E depois ele foi ver o espetáculo. Foi muito, mas muito legal.

O que representa “A Cor Púrpura” na sua carreira?

CYNTHIA ERIVO: A peça mudou minha vida. Mudou de verdade. E amei cada segundo. Eu não sabia que fazer um musical poderia resultar nisso. Acho que sou um caso especial, no sentido de ter acontecido deste jeito, mas acho que recebi um presente maravilhoso que abriu todas essas portas para mim. E esses filmes chegaram a mim em decorrência disso, o que me deixa muita grata. Saí da RADA em 2010 e as coisas foram muito sensacionais desde então – uma depois da outra. Acho que sempre me permiti sonhar um pouco. Para mim, a questão nunca foi conseguir o trabalho. Nunca foi isso, porque eu sabia que nasci para fazer isso. Só queria fazer o máximo que podia. Sempre digo que sou gananciosa, porque quero fazer tudo. E quero fazer tudo muito bem.

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