A Diversidade entre a Minorias
Em recente visita ao Brasil, Verônica Cookeueli, Gerente do Programa de Diversidade de Fornecedores de Kent State Universty, dissertou sobre o fomento de cadeia de fornecedores em diversidade, algo muito forte nos Estados Unidos. Recentemente nomeada advogada do ano pelo Concelho de Desenvolvimento de Fornecedores de Minorias de Ohio, concedido àqueles que apoiam o Desenvolvimento de Negócios Minoritários, são visíveis na Comunidade Empresarial, exibem um forte compromisso com a Diversidade de Fornecedores e Veronica conversou com exclusividade com a Revista Raça. Confira
Quais as suas impressões nesta sua primeira visita ao Brasil?
O Brasil é um país maravilhoso, nunca tinha viajado para um país tão longe fora dos Estados Unidos e foi muito interessante já no voo. As pessoas perguntavam se eu era brasileira, já que nossos aspectos físicos são muito parecidos. Este é um país incrível, tenho me sentido muito bem.
A senhora está em São Paulo, é sempre bom lembrar que temos desigualdades enormes, não só regionais, mas também locais. Teve a oportunidade de visitar as periferias?
Sim. Já pude perceber a desigualdade logo que eu cheguei ao aeroporto. Percebi vários profissionais trabalhando em uma construção e fiquei muito feliz, mas foi uma felicidade momentânea. Observei que todos os funcionários eram subalternos, não havia negros no comando. Não vi negros donos de construtoras.
Em seus estudos está a questão da diversidade em instituições americanas. Aqui no Brasil ouço com
frequência que mulheres, LGBTQ+ e outras “minorias” têm avançado mais que os negros. Esta também é uma realidade nossa.
É importante lembrar como inicia a história da inclusão de negros nos Estados Unidos. Lá o processo teve um forte avanço com a luta pelos direitos civis, sobretudo nos anos 60. Foi um movimento tão forte que atropelou e incorporou outros, como o das mulheres LGBT. A questão racial sempre foi muito forte ajudando a pautar, inclusive, esses outros movimentos. Acredito que, talvez por isso, lá a questão racial tenha um traço tão forte nas conquistas.
Por que os avanços são mais consideráveis e palpáveis, por exemplo, no caso das mulheres?
Pode parecer contraditório, mas vou dizer: sou mulher e tenho consciência que a coisa não está fácil para nós, mulheres. No meu país, as mulheres ainda recebem menos da metade que os homens, ainda ocupam, na maioria das vezes, cargos inferiores. Porém, têm que fazer lutas diferentes. Sou mulher, sendo negra sou duplamente discriminada. Se for deficiente física e veterana de guerra, piorou. Mas tenho que separar todas essas coisas e, caso você perceba que a questão racial é a que mais marca a discriminação, é ela que tem que ser atacada. Ela que tem que ser o foco, as empresas que trabalham com inclusão têm que ter isso como premissa. Fazer o trabalho mais difícil, porque os outros caminham juntos! Eu quero defender lutas diferentes!
Qual o argumento mais forte e convincente para uma empresa implementar políticas de inclusão e
diversidade?
Quando me perguntam isso respondo da seguinte forma: Se grandes empresas como Google, Microsoft, IBM, Coca Cola estão nesse negócio, é porque, além de tudo, deve ser muito bom para o business. Estou falando das maiores empresas do planeta. Onde você quer estar: ao lado dessas empresas ou daquelas que ainda não saíram do século passado?
Percebo em sua fala muito mais as palavras inclusão e diversidade do que ações afirmativas, qual o motivo?
As ações afirmativas são um processo muito importante em meu país, mas quando falo em inclusão e diversidade vou muito além. Estou falando diretamente de desenvolvimento econômico para setores que muitas vezes mesmo se beneficiando de uma ação afirmativa não conseguem ultrapassar as barreiras da exclusão. Você pode ter sido um negro (a) que estudou por meio de ação afirmativa, concluiu o curso vai concorrer em pé de igualdade com um colega branco. Contudo, se historicamente o mercado se desenvolveu em um processo de exclusão, você fatalmente será vítima desse processo de exclusão.
Uma questão importante é a raiz da desigualdade no Brasil, o processo de exclusão…
Sim, é esse processo que torna a sociedade desigual. E se essa sociedade traz marcas profundas da escravidão e das desigualdades que havia entre negros e brancos nesse período, a exclusão vai ter cor e origem. Falei para um grupo de empresas aqui no Brasil; estavam representantes da Nike, Google, Itaú, Coca Cola, Johnson entre outras, falei sobre contratos que é a área que mais estudo e perguntei: Como têm sido os contratos com as empresas de minorias? Os afroempreendedores precisam ser incluídos?
Eu diria que não vai muito bem… nós mesmos, aqui na RAÇA, que é uma revista desta camada chamada de “minoria”, temos dificuldades de encontrar anunciantes dessas empresas que se dizem ter programas de Ações Afirmativas.
Exatamente, é essa percepção que o mercado tem que olhar. Mirar naqueles que nunca foram olhados, tratar com equidade aqueles que sempre foram tratados com desigualdade. Quando você tem esse olhar para os contratos com fornecedores, com colaboradores, quando você olha para suas estruturas de direção, para os conselhos e não encontra aqueles que estão do outro lado do muro, quando você não os vê em sua estrutura, é sinal de que tem algo errado. E o que está errado é o processo estarrecedor de exclusão que ainda temos em nossa sociedade e é isso que precisamos combater.
O que poderia acelerar o processo de inclusão dessas empresas de minorias?
Aqui no Brasil vocês têm dificuldade de entender essa classificação que, para nós, nos Estados Unidos, é bem definida. Sabemos o que é uma empresa de minoria.
E a senhora teria uma pista para nos dar?
Eu começaria colocando os grupos que historicamente foram excluídos; no caso americano são negros, latinos, asiáticos, por exemplo. São camadas que sempre tiveram dificuldades de desenvolver seus negócios e por isso precisaram ser olhadas de forma diferente para serem incluídas na sociedade de mercado, eu diria que este é o primeiro passo.