A construção do Memorial dos Aflitos, um espaço pensado para homenagear o povo negro e sua história na capital paulista, enfrenta mais um atraso. Depois de dois anos e meio de espera, a Prefeitura anunciou que vai realizar um novo concurso para escolher o projeto arquitetônico — um sinal de que o caminho ainda é cheio de desafios, mas também de possibilidades.
Localizado no bairro da Liberdade, uma das últimas áreas periféricas no centro da cidade, o memorial terá lugar em um sítio arqueológico que guarda as memórias de um antigo cemitério popular. É um espaço carregado de história e significado para as comunidades negras, indígenas e periféricas que resistem e insistem em manter viva sua cultura e sua identidade.
O adiamento veio após a rescisão do contrato com o escritório responsável pelo projeto atual, que fez alterações consideradas fora do que foi inicialmente aprovado. Embora frustrante, essa decisão também foi fruto da mobilização de grupos que acompanham de perto a obra, como o Instituto Tebas e a Associação de Amigos da Capela dos Aflitos (UNAMCA). Eles lutam para que o memorial seja construído com respeito e participação real das vozes negras e indígenas, que devem ser protagonistas desse processo.
Essa luta também recebeu respaldo técnico. O Tribunal de Contas da cidade e a Secretaria de Cultura identificaram falhas no edital original que comprometiam a transparência e a concorrência justa — pilares fundamentais para garantir que um projeto tão importante represente de fato a comunidade que ele quer celebrar.
Para o advogado que acompanha a mobilização, esses problemas revelam algo maior: “É uma questão de legitimidade, de reconhecimento histórico e de justiça social”, afirma ele.
Mais do que um projeto arquitetônico, o Memorial dos Aflitos representa a memória, a dor e a resistência de um povo que, mesmo diante de tantos obstáculos, segue insistindo em existir, ser visto e respeitado. A espera é longa, mas a esperança de que esse espaço seja finalmente erguido com o protagonismo que merece é o que mantém viva essa caminhada.
