A facilidade com que a sociedade liga pessoas negras ao crime

Por Isadora Santos

Para as pessoas negras o assunto é repetitivo e estamos cansados, para as pessoas brancas, mais um dia passou

Foi em 2020 que Will Smith disse: ”o racismo não aumentou, ele só está sendo filmado” e temos visto no Brasil incontáveis casos de pessoas negras que têm sido submetidas a tratamentos desumanos simplesmente pela sua existência.

No Maranhão, município de Açailândia, Gabriel da Silva Nascimento, de 23 anos, foi espancado por um casal que o acusava de tentar roubar o próprio carro. O caso ocorreu em 18 de dezembro. O jovem havia descido do condomínio onde morava para fazer uma vistoria no carro porque estava se preparando para viajar. O recepcionista da Caixa Econômica Federal foi atingido por uma rasteira, chutes e pisões no pescoço que poderiam ter lhe tirado a vida. O casal de vizinhos não teve pudor algum em perguntar se o carro era dele e de logo ligá-lo à posição de criminoso, sem se dar conta de que os dois é quem cometiam um crime, seja pela falsa acusação de roubo ou pelas agressões.

Em 28 de dezembro, Luís Fernandes Júnior, natural da Guiné-Bissau e que mora há sete anos na Bahia, foi abordado no banheiro e forçado a sair por um segurança que o acusou de roubar uma mochila da loja Zara, em um shopping de Salvador. O vídeo do momento em que o segurança aborda o homem também chegou na internet e viralizou. O homem deve pedir uma indenização de R$ 1 milhão.

Já no Ceará, pasmem, uma foto de Michael B. Jordan está entre as imagens dos suspeitos de terem participado da chacina da Sapiranga, que matou cinco pessoas na noite do dia 25 de dezembro. A foto está nos registros da Polícia Civil do estado.

No último sábado, o jornalista Silvio Navarro compartilhou um post no Twitter comentando um post do Mano Brown em que ele diz que quem for ao show dos Racionais MC’s em 2022 terá que apresentar comprovante de vacina. Em sua publicação, Navarro twittou: “Mano Brown exige certificado de vacinação para entrar em shows. Atestados de antecedentes criminais não são exigidos”.

Depois das críticas ao seu comentário, o jornalista publicou: “O tweet anterior sobre o show do Mano Brown foi apagado. Não tem absolutamente nada a ver com racismo ou estilo musical – e sim, a letras sobre violência e crime. Como a mensagem não foi clara e muita gente se sentiu ofendida, peço desculpas”.

Sabemos que as letras sobre violência e crime cantadas nas músicas do grupo de rap retratam não a criminalidade, mas dura realidade das pessoas que cresceram nas favelas do Brasil. Sabemos que elas denunciam o descaso do Estado com a população pobre, preta e periférica.

Mas é muito mais fácil para pessoas brancas, reduzir nossa imagem à criminalidade. Falar de nossa cultura como se pertencêssemos a uma segunda classe, inferior. A verdade é que além de confortável, para muitos deles é o único lugar que nos cabe.

O lugar de criminalizados, encarcerados, controlados, “cativos”. Crime, na verdade, é saber que milhares de pessoas morreram porque uma autoridade com poder para tal não fez o mínimo, que era ouvir a ciência e destinar vacinas a quem é de direito. Crime e violência é saber que uma população não pode deter poder, estar na política, comprar seu carro ou sequer uma mochila sem estar sob o manto da desconfiança. Crime é não é denunciar violência, crime é praticá-la, como há centenas de anos a branquitude tem feito contra nós.

A soma é simples. Vamos falar de verdade sobre os reais antecedentes?

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