A Fantástica Fábrica de Chocolate teria protagonista negro
Viúva do autor Roald Dahl disse que a alteração na etnia de Charlie “foi uma grande pena”
Lançado em 1971, o clássico infantil A Fantástica Fábrica de Chocolate entrou para a história da sétima arte com uma trama mágica e quase surreal sobre um menino que concretiza o sonho de conhecer um mundo de pura imaginação. Entretanto, a história poderia (e deveria) ter sido diferente. Segundo a viúvia do escritor britânico Roald Dahl (1916 – 1990), o garoto Charlie Bucket era, originalmente negro.
“O primeiro Charlie sobre o qual ele escreveu era um menino negro”, revelou Felicity Dahl ao jornal The New York Times. De acordo com Donald Sturrock, autor da biografia Storyteller: The Life of Roald Dahl, o autor mudou de ideia após ser persuadido. “Foi seu agente que achou que seria uma ideia ruim, quando o livro foi publicado pela primeira vez, que o herói fosse negro.”
O nome do agente que teria feito o autor a mudar a etnia de Charlie — interpretado por Peter Ostrum no clássico estrelado por Gene Wilder e por Freddie Highmore no filme dirigido por Tim Burton — não foi mencionado.
Felicity disse que considera “uma grande pena” que Charlie não seja negro. Ao ser perguntada se gostaria de ver uma nova versão do livro de seu falecido marido condizer com o conteúdo da versão original, a viúva respondeu: “Seria maravilhoso, não seria?”.
Originalmente intitulado Charlie and the Chocolate Factory, o livro foi publicado por Roald Dahl em 1964, com uma trama inspirada na infância do autor. A obra do escritor galês já ganhou em diversas ocasiões, graças a produções como James e o Pêssego Gigante, O Fantástico Sr. Raposo, Matilda e O Bom Gigante Amigo.
A primeira edição de A Fantástica Fábrica de Chocolate levantou debates sobre racismo por conta da forma como os Umpa Lumpas eram representados, como se fossem versões estereotipadas e ofensivas de pigmeus africanos. Posteriormente, as ilustrações mudaram e passaram a representartais personagens com feições de gnomos. Dahl também era criticado por seu antissemitismo. “Certamente sou anti-Israel e me tornei antissemita” é uma infame frase atribuída ao autor.
Steven Spielberg, que é judeu e dirigiu O Bom Gigante Amigo, já se disse perplexo com essa faceta do autor, pois, segundo o cineasta, os livros de Dahl “fazem exatamente o oposto, abraçando as diferenças entre as raças, culturas, tamanhos e línguas”.