Revista Raça Brasil

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A Faria Lima lava mais branco

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Zulu Araujo

É Arquiteto, Mestre em Cultura e Sociedade e Doutor em Relações Internacionais pela UFBA. Ex-presidente da Fundação Palmares.

Para quem assistiu a premiada série “Narcos”, protagonizada pelo ator brasileiro Wagner Moura, na qual ele interpreta o narcotraficante Pablo Escobar, (morto em 1993, por uma força tarefa integrada pela DEA/EUA, Polícia e Exército colombiano), as Operações “Carbono Oculto”, “Quasar” e “Tank” ação conjunta da Polícia e Receita Federal e do MP de São Paulo, que desmantelou o maior esquema de lavagem de dinheiro do narcotráfico no Brasil, não foi nenhuma surpresa.

Pelo visto, parece que mais uma vez, “a vida imita a arte”.

Os números foram exuberantes: 8 Estados (São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina), 350 alvos (físicos e jurídicos) e 14 prisões preventivas (6 executadas).

Os sinais de que o crime organizado vem se infiltrando nas instituições brasileiras de há muito se faziam notar, tanto em setores da construção civil, transportes, combustíveis, financeiros e até mesmo em segmentos da política.

Exemplo neste sentido, diz a matéria do jornalista Vasconcelos Quadros, do Agencia Pública, lá pelos idos de 2020, sobre investigação da Polícia Federal fazia à época:

“O envolvimento de políticos com o tráfico não é novidade. Em 1991, o então deputado federal Jabes Rabelo, cuja família construiu um império financeiro de origem suspeita em Cacoal, Rondônia, teve o mandato cassado pela Câmara depois que seu irmão, Abidiel Rabelo, foi preso em São Paulo com 554 quilos de cocaína portando uma falsa carteira de assessor parlamentar com a assinatura do irmão.” 

A novidade mesmo desta operação, para muitos brasileiros, foi o envolvimento da Faria Lima (espaço nobre onde opera a elite financeira brasileira). A PF estima que o crime organizado “lavou” mais de 50 bilhões de reais por meio de 42 Fintechs (empresas que oferecem soluções financeiras sem burocracia), operada pela fina flor da elite brasileira.

As manchetes chamaram atenção: “Crime organizado chega a Faria Lima”, “Da cana de açúcar a Faria Lima”, “Faria Lima quer o dinheiro do crime sem sujar as mãos”. Mas, nas redes sociais, tem muita gente perguntando: que ingenuidade é essa desse pessoal da Faria Lima?

Será que alguém acredita de verdade que os chefões do tráfico, que movimentam bilhões de reais, são aqueles jovens maltrapilhos, pretos e pobres que ostentam armas maiores que eles e moram nas periferias das grandes cidades brasileiras?

Será que o aparato de segurança do estado acredita mesmo, que prendendo e matando esses jovens negros, desprovidos de quase tudo, vão solucionar o problema do tráfico de drogas no país?

É muita ingenuidade, para nenhuma resposta.

O narcotráfico no Brasil, tem deixado um rastro de corrupções monumentais, massacres e assassinatos brutais que não só enlutam famílias negras e pobres, como também tem provocado o apodrecimento do tecido social, das instituições e do próprio sistema democrático.

Claro, é preciso que a operação atual seja aprofundada, que operadores e beneficiários diretos e indiretos sejam identificados, até porque há fortes suspeitas de que haja vínculos com setores da política, em particular da extrema direita brasileira.

Portanto, essa operação exitosa dos órgãos de segurança do estado brasileiro, deve sim receber aplausos e servir de exemplo de como o Estado deve agir, respeitando a lei, mas atuando com rigor para atingir o coração das organizações criminosas no Brasil.

Detalhe importante e curioso: apesar de todo sucesso e estrago causado ao crime organizado, a operação policial transcorreu sem disparar um tiro e sem matar uma única pessoa.

Enfim, que essa operação sirva de exemplo no combate ao crime organizado e ao discurso de que pretos e pobres são sinônimos de criminalidade.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

 

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