Revista Raça Brasil

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A força e coragem de Allyne, da Liberdade para o mundo

Antes de vestir a camisa da Seleção Brasileira, Allyne vestia o avental da vida. Era ela quem cuidava dos irmãos, quem preparava o café da avó, quem tentava colocar ordem no pequeno lar em Cuiabá, no bairro Liberdade. Hoje, aos 17 anos, a menina que cresceu entre responsabilidades e sonhos improváveis carrega no peito um brasão que representa tudo o que ela acreditou — mesmo quando parecia impossível.

Filha mais velha de uma família numerosa, Allyne cresceu sob os cuidados da avó Dalvina. “Eu nunca morei com meus pais, porque eles são dependentes químicos. Então fiquei com a minha avó, que é idosa, diabética e tem hipertensão. Como eu era a mais velha, precisava cuidar dos meus irmãos”, lembra.

Entre o barulho das panelas e as risadas infantis, ela aprendeu cedo o que é amor em forma de cuidado. “Minha avó é maluca por café”, conta, rindo. “A primeira coisa que ela me ensinou foi a fazer café do jeitinho dela. Tinha o coador certo, a panela certa e até a medida exata de duas colheres e meia de pó. Pra ela, era quase um ritual.”

Mas o ritual que mudaria a vida de Allyne aconteceria fora da cozinha — no campo de terra, onde ela descobriu que a bola também podia ser uma forma de recomeço.

Tudo começou por acaso, quando uma amiga a convidou para jogar em uma escolinha. “Eu nunca pensei em sair de casa, mas aconteceu. O pai dela me levou pra treinar, e eu fiquei por dois anos. Até que joguei contra um time feminino de Cuiabá e o treinador me chamou pra peneira do Grêmio.”

Convencer a avó e os tios não foi fácil. A menina que sempre cuidou de todos agora precisava partir — não por fuga, mas por esperança. “Demorou pra eu conseguir, mas no dia 8 de agosto de 2022 fui fazer o teste… e passei. Me mudei pra Porto Alegre no mês seguinte. Foi um choque, mas também uma libertação.”

Desde então, a história de Allyne tem sido escrita com coragem. A convocação para a Seleção Brasileira veio como um presente para quem nunca desistiu. “Quando vesti a camisa da Seleção pela primeira vez, eu não queria tirar. Fiquei me olhando no espelho o tempo todo. Era um sonho que eu nem sabia se era possível pra mim.”

Hoje, vivendo o Mundial no Marrocos, ela ainda se emociona ao pensar em tudo o que deixou para trás. “A Allyne de três anos atrás jamais imaginaria que estaria aqui. Porque da onde eu vim, o destino era dois: ou sair de lá, ou se perder. O futebol salvou minha vida. Ele me trouxe alegria quando tudo era difícil.”

Dentro de campo, Allyne carrega a mesma força que a fez vencer fora dele. “Eu sou corajosa. Se vejo um passe arriscado, eu tento. Se não dá certo, eu tento de novo. Sempre fui assim — sem medo de tentar.”

Cercada por uma equipe que ela descreve como “a melhor da vida”, Allyne valoriza não só o talento, mas o ambiente. “É um grupo que tem união, energia boa. Isso muda tudo.”

E, entre uma lembrança e outra, ela deixa uma mensagem que resume toda a sua jornada:

“A gente tá com sangue no olho. Nosso objetivo não é só jogar bonito, é trazer a primeira estrela pro Brasil. E eu quero que todo mundo saiba que vale a pena sonhar. Porque o futebol me salvou — e ainda me ensina todos os dias a acreditar.”

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