A HISTÓRIA DO MILITANTE NEGRO ELDRIDGE CLEAVER – PARTE 2

Confira a segunda parte da coluna de Oswaldo Faustino sobre o militante negro Eldridge Cleaver

 

TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTO: Reprodução | Adaptação web: David Pereira

Os Panteras Negras | FOTO: Reprodução

Os Panteras Negras | FOTO: Reprodução

Veja a primeira parte da matéria aqui.

No mesmo ano em que Cleaver deixou o presídio, 1966, nascia em Oakland, naquele mesmo estado, o Partido dos Panteras Negras, de inspiração maoísta, que emergiu dos guetos para abalar o american way of life. Tendo o racismo como principal alvo de ataque, defendia o direito dos negros a se armarem, caracterizando-se como um organismo paramilitar. Cleaver se tornou editor do jornal da organização.

Dois anos depois, reuniu vários ensaios e artigos escritos nos tempos da prisão e os publicou com o título de “Soul on Ice”, cujo radicalismo exerceu grande influência naqueles que lutavam contra o racismo no mundo todo. Uma obra tão antiamericana que atacava até o beisebol e o hot dog. Aqui, em tempos de ditadura militar e de AI-5, foi um prato cheio. Confrontos violentos, como o de 6 de abril de 1968, dois dias após o assassinato de Martin Luther King, que resultaram na morte do jovem Pantera Negra Bobby Hutton, de 16 anos, e também de um policial, geraram uma guerra sem tréguas entre essa organização e o FBI. Cleaver fugiu para Cuba e iniciou uma vida nômade, ora na Argélia, ora na Coreia do Norte, na China, na União Soviética e na França. Decepcionou-se com o comunismo. Ao retornar aos EUA, em 1975, foi acusado de traição pelos ex-companheiros e até mesmo de ser informante do FBI, o que negou até falecer, aos 62 anos, em maio de 1998.

O que mudou, afinal?

Aquela entrevista à revista Reason é bastante esclarecedora nesse sentido. Eldridge Cleaver acreditava que as ações das quais participou contribuíram para pôr fim à segregação racial em seu país. Porém, já não via com bons olhos o ódio a tudo o que fosse norte-americano, nem tampouco os atos violentos que exaltava na juventude. Nessa entrevista de 1986, afirmou que na noite da morte de Bobby Hutton, seu grupo saiu para emboscar policiais, ao contrário do que sempre se afirmou – que eles foram emboscados pela polícia. Ele até passou a classificar o Departamento de Polícia como “necessário”.

Em 1978, Cleaver havia publicado “Soul on Fire” (Almano Fogo), onde chama os policiais de “abusivos e violentos”. Indagado a respeito, durante a entrevista, respondeu: “Claro que eles eram abusivos e violentos. Eram assassinos. E eles ainda são. Mas os policiais são como os cães na coleira. […] A polícia funciona sob direção política. Eles foram orientados a deter as marchas pelos direitos civis, assustar as pessoas, aterrorizá-las, vencê-las, usar cassetetes elétricos. E fizeram isso”.

Mesmo decepcionando seus seguidores, Eldridge Cleaver demonstrou que todos os fatos podem ter várias versões e serem utilizados a favor ou contra uma causa. Há até quem acredite que ele tenha ingressado no Partido Republicano como um homem-bomba, com uma única finalidade: implodí-lo. Com sua morte, porém, jamais ficaremos sabendo se era verdade.

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