A Líbia africana que o ocidente destruiu e esqueceu

No ano de 2010, o mundo ocidental entrou em êxtase com um conjunto de protestos realizados pela sociedade civil nos países árabes. Esse evento foi chamado de “Primavera Árabe”. Nações como Egito, Líbia, Iêmen, Síria, Marrocos, Jordânia, Argélia e Arábia Saudita foram sacudidas por verdadeiros tsunamis humanos que, segundo a mídia ocidental, clamavam por democracia e liberdade. Até aí, tudo bem. Nada mais justo que fossem questionadas os regimes autoritários que vigiam nesses países e oprimiam seus povos. Mas, há uma pergunta que não quer calar – Passados quase quinze anos, qual o resultado obtido?

De todos esses países, o único que transitou para um regime minimamente democrático foi a Tunísia, ainda assim com grandes dificuldades. O mesmo ocidente que cantou em prosa e verso a tal da “Primavera Árabe”, não titubeou em voltar a apoiar os regimes autoritários e violentos, como os do Egito e Arábia Saudita, desde que lhes garantissem os privilégios de acesso ao ouro negro. Mas, na Líbia, país africano que era dirigido por um arqui-inimigo político do ocidente, Muammar Khadaffi, a tragédia produzida pelo ocidente assumiu uma dimensão brutal.

Em nome de proteger a população civil a qualquer custo, em março de 2011, o Conselho de Segurança da ONU, autorizou a intervenção militar naquele país. Foram sete meses em que a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) cercou, bombardeou, invadiu e destruiu toda a infraestrutura da Líbia. Para coroar sua intervenção “democrática”, encurralaram Muammar Khaddafi, o prenderam e o entregaram a seus inimigos internos que o empalaram em via pública. Não contentes, ao saírem deixaram o país imerso numa guerra civil, onde mais de 60 mil pessoas já foram mortas. Além disso, a Líbia está imersa num retrocesso político (governado por milícias) e humanitário de tal ordem, que seres humanos são enjaulados e vendidos na feira livre como mercadoria.  

E agora, de forma cínica, nações ocidentais afirmam que precisam arrecadar 300 milhões de dólares para ajudar as vítimas da maior catástrofe climática que a Líbia já teve. São mais de vinte mil mortos, até agora, decorrentes das tempestades.  Esquecem, propositalmente, de que o ocidente, por meio da OTAN são os principais responsáveis por esse verdadeiro genocídio contra o povo Líbio. Foram eles que destruíram a infraestrutura do país, incluindo o governo e não colocaram nada no lugar.

A única coisa que o ocidente tem cuidado com todo o carinho na Líbia, apesar de toda essa destruição, são os poços e refinarias de petróleo. Não esqueçamos de que a Líbia era um dos maiores produtores de petróleo do mundo e que fazia uso dessa riqueza para ajudar inúmeros outros países africanos, e isso era intolerável. Após a invasão, França, Estados Unidos e Grã Bretanha, por meio de empresas clandestinas, vem sugando o petróleo líbio a olhos vistos, para promoverem o seu próprio desenvolvimento.

Enquanto isso a Líbia e o seu povo, agoniza de forma dramática, ora vitimados pela guerra civil insana e estimulada pelo ocidente, ora pelas catástrofes climáticas, como a que está ocorrendo no momento. Na verdade, essa é apenas uma das consequências da tão afamada “Primavera Árabe”, que tantos ingênuos defenderam ardorosamente pelo mundo afora, não percebendo que o jogo bruto do colonialismo que apenas mudou de nome ou de forma, continua sendo tão predatório e violento quanto o foi em passado recente.

Por isso mesmo, a solidariedade ao povo líbio precisa se dar para além das esmolas e ajudas humanitárias. A Líbia precisa da nossa ajuda para restaurar a sua dignidade e a sua soberania, voltando a ser dono das suas riquezas naturais.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

Colunista: Zulu Araújo

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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