A luta da ativista política Maria Aragão

Oswaldo Faustino conta a história de luta da ativista política Maria Aragão

 

TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira

A médica e ativista política Maria Aragão | FOTO: Divulgação

A médica e ativista política Maria Aragão | FOTO: Divulgação

Quem estivesse de passagem pela cidade de São Luís, na manhã de 24 de julho de 1991, e assistisse à multidão em cortejo, acompanhando o caixão levado por um caminhão do Corpo de Bombeiros, coberto com as bandeiras do PCB (Partido Comunista Brasileiro), da CUT (Central Única dos Trabalhadores), do PDT (Partido Democrático Trabalhista) e da agremiação carnavalesca Favela do Samba, jamais imaginaria que se tratava do funeral de uma médica negra. Uma passeata de trabalhadores rurais uniu-se ao cortejo que saiu da Assembleia Legislativa do estado do Maranhão, onde ocorreu o velório. Quem seria, afinal, essa mulher cujo sepultamento no Cemitério do Gavião comoveu uma cidade inteira? Por que enquanto o caixão descia à sepultura se ouviram discursos de políticos, o hino nacional e também o da Internacional Socialista?

Em parceria com a Escola Nacional Florestan Fernandes, a Editora Expressão Popular lançou o documentário “Maria Aragão e a organização popular” – DVD acompanhado de um livro – sobre essa mulher que venceu a fome, a miséria e os preconceitos raciais e políticos. Apesar de todas as dificuldades para estudar – Maria Aragão nasceu numa família de sete filhos, no Engenho Central, em Pindaré-Mirim, uma área de grandes conflitos por terras no Maranhão –, mudou-se para ao Rio de Janeiro, onde se formou em Medicina na antiga Universidade do Brasil. Durante o curso, sustentava-se dando aulas particulares.

Maria Aragão poderia fazer carreira ali, na Capital Federal, mas idealizava dedicar seus conhecimentos à população abandonada de seu estado. Por isso, voltou para lá e, já filiada ao PCB – o “Partidão” –, dividia seu tempo entre o trabalho na pediatria de hospitais públicos e a militância política, enfrentando tanto o poder constituído quanto pistoleiros a serviço das elites locais.

Mas os poderosos e a Igreja espalhavam de tal forma temores em torno da palavra “comunista”, que a médica, volta e meia, era chamada de prostituta e de besta-fera. Chegou a ser apedrejada na cidade de Codó. Mudar sua especialização para a ginecologia permitiu-lhe pôr em prática uma bandeira defendida por ela dentro do partido político: a valorização da saúde da mulher. Foi também diretora do jornal Tribuna do Povo. Enfrentou oligarquias, foi presa cerca de uma dezena vezes, torturada com agressões físicas e morais, perseguida tanto pela ditadura de Vargas quanto pela militar, pós-1964, pouco depois de seu retorno da União Soviética, onde realizou estudos que a habilitaram à direção partidária.

Por sua coragem e firmeza, se tornou uma das principais lideranças de esquerda do nordeste brasileiro. Foi amiga do líder comunista Luiz Carlos Prestes e participou do famoso comício do então “Cavaleiro da Esperança”, no estádio do Vasco da Gama, em 23 de maio de 1945. Assim como o amigo ilustre, ela se desiludiu com a linha político ideológica tomada pelo “Partidão”. Por isso, em 1981, Maria Aragão filiou-se ao PDT, criado por Leonel Brizola, que tinha, entre as lideranças negras, o jornalista, escritor e ex-senador Abdias do Nascimento. Aos 81 anos, Maria Aragão se mantinha fiel à própria ideologia e dedicada à saúde da população mais humilde de seu estado majoritariamente negro, onde vicejam religiosidades de matriz africana como o Tambor de Mina, o Vodum, a Umbanda e manifestações populares como o Tambor de Crioula e o Bumba Meu Boi, entre outros. No carnaval de 1989, ela foi homenageada pela agremiação Favela do Samba. No Centro Histórico da capital maranhense, em 2003, foi inaugurado o Memorial Praça Maria Aragão, projetado por Oscar Niemeyer.

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