Revista Raça Brasil

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“A Melhor Mãe do Mundo” e a coragem de quem nunca deixa de lutar

Existem histórias que não pedem licença para entrar — elas chegam, tocam e ficam. “A Melhor Mãe do Mundo”, novo filme de Anna Muylaert, é uma dessas. Mais que um drama, é um retrato vivo de mulheres que carregam o mundo nas costas e, mesmo assim, encontram espaço para sorrir, proteger e sonhar.

A protagonista é Gal (Shirley Cruz), uma mulher que poderia ser qualquer vizinha, colega ou conhecida — ou até mesmo alguém que passa todos os dias diante de nós, empurrando uma carroça pelas ruas, sem que olhemos duas vezes. Mãe solo e catadora de material reciclável, Gal decide romper o ciclo da violência doméstica. Com um olho roxo e um coração firme, ela denuncia o companheiro, consegue uma medida protetiva e foge com os filhos pequenos, levando apenas o necessário: a coragem.

É nesse caminho que Muylaert nos convida a enxergar o que geralmente é ignorado. Gal enfrenta o peso literal e simbólico de puxar uma carroça, mas também carrega o peso invisível da responsabilidade, do medo e da esperança. Ao lado dela, vemos crianças que aprendem a brincar entre sacos de recicláveis e ruas movimentadas, e uma mãe que luta para que o riso deles não se apague, mesmo em meio ao caos.

Shirley Cruz: verdade que corta e acolhe

Shirley Cruz entrega uma atuação que não é apenas interpretada — é vivida. Dispensa dublês, carrega a carroça de verdade e, em cada olhar, deixa transparecer que entende profundamente a dor e a força de sua personagem. Não é por acaso: a atriz também carrega marcas de uma história de violência.

“Todas nós somos um pouco Gal. Nascer mulher é quase um portal aberto para ser maltratada, sacaneada, pisada e abusada”, disse Shirley. Sua fala ecoa para além do filme, como um lembrete de que a luta contra o machismo não é individual, mas coletiva.

Rede de apoio e afeto

No caminho, Gal encontra Munda (Rejane Farias), mulher em cadeira de rodas que vende bandeiras e oferece abrigo. É um retrato sincero da sororidade, mostrando que apoio pode vir de onde menos esperamos. Ao redor, vozes como a de Luedji Luna e participações de Chico César e Dexter completam o coro de representatividade que pulsa no filme.

Um espelho para quem ainda não é visto

“A Melhor Mãe do Mundo” não fala só sobre violência doméstica ou pobreza. Fala sobre a força de quem sobrevive, sobre profissões essenciais como a dos catadores de recicláveis, que mantêm o ciclo de sustentabilidade vivo e, ainda assim, permanecem invisíveis.

O filme nos obriga a desacelerar o olhar e reconhecer: existe beleza, dignidade e resistência mesmo nas histórias que o mundo tenta apagar.

Por que assistir?

Porque esta é uma história sobre amor como resistência. Sobre uma mãe que transforma dor em força e, mesmo quando o chão parece faltar, encontra um jeito de seguir. É sobre representatividade, empatia e a urgência de enxergar o outro com humanidade.

“A Melhor Mãe do Mundo” não é só um título — é um lembrete de que, muitas vezes, o heroísmo está em gestos simples, repetidos todos os dias, por pessoas que o mundo prefere não ver.

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