Revista Raça Brasil

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A mulher na base da pirâmide: Entre a ficção e a realidade

Na manhã da última segunda-feira (6), o programa Mais Você, da Rede Globo se transformou em uma das conversas mais potentes da televisão recente. Ao lado de Ana Maria Braga, Taís Araújo não falou apenas sobre o fim de uma novela, ela falou sobre o Brasil. Um Brasil sustentado por mulheres invisíveis, que vivem o cotidiano árduo da sobrevivência com coragem e pouca rede de apoio.

Entre lágrimas, Taís se despediu de Vale Tudo, obra de Manuela Dias que reconta a clássica história de Raquel Accioly personagem vivida por Regina Duarte em 1988 e agora ressignificada por uma mulher negra. “Ela é uma mulher que me emociona. As questões da Raquel me emocionam. Ai, meu Deus…”, disse a atriz, tentando conter o choro. Ana Maria, igualmente tocada, respondeu: “É um perigo eu te entrevistar, porque você me emociona.”

Mas o que comove Taís Araújo vai além do enredo. A atriz reconhece em Raquel a representação das mulheres que sustentam o país nas margens. “Uma personagem como a Raquel está na base da pirâmide do Brasil, sabe? Batalhando para criar seus filhos, apesar de toda a diversidade que esse país proporciona para pessoas que estão na base da pirâmide. É muito difícil, uma mulher viver assim. É muito difícil”, pontuou.

Essa fala ecoa como denúncia e homenagem. Raquel é, na ficção, o retrato das mulheres que enfrentam a desigualdade estrutural, a informalidade, o transporte precário e a sobrecarga doméstica. Na vida real, elas são as milhões de brasileiras que sustentam o país com o próprio corpo sem políticas públicas que as amparem.

Taís aprofundou essa reflexão ao descrever o cotidiano de tantas “Raqueis” reais: “Quantas pessoas que a gente conhece que pegam três, quatro conduções. Pegam trem e mais um ônibus para chegar em seus trabalhos. A casa dela está um caos, pode estar caindo. O caos, pode ser de material, bagunça, mas eu digo no sentido de filho com problema, problema financeiro, e essa pessoa está ali firme, entregando o seu trabalho. A Raquel é essa mulher.”

A emoção da atriz revela algo essencial: enquanto o país insiste em romantizar a força feminina, o que há por trás dela é um sistema que naturaliza a desigualdade. O “caos” descrito por Taís não é apenas doméstico é político. É o reflexo de um Brasil que depende do trabalho das mulheres mais pobres, em sua maioria negras, e pouco reconhece o peso dessa sustentação.

Ao se despedir de Raquel, Taís Araújo também denuncia, com sensibilidade e coragem, as condições de vida das mulheres que vivem “na base da pirâmide”. Sua fala é um lembrete de que a ficção pode e deve provocar e que, às vezes, a arte é o único espaço em que o país invisível ganha voz.

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