A origem do Afrobeat

Saiba mais sobre a história de Fela Kuti e a origem do AfroBeat

 

TEXTO: Marco Antonio Miguel | FOTOS: Reprodução | Adaptação web: David Pereira

O cantor Fela Kuti, criador do Afrobeat | FOTO: Reprodução

O cantor Fela Kuti, criador do Afrobeat | FOTO: Reprodução

Junção de jazz, funk, highlife e ritmos tradicionais africanos, o Afrobeat traz ingredientes que foram misturados à medida em que Fela Kuti cultivava novas experiências musicais. Nascido Olufela Olusegun Oludotun Ransome-Kuti, em 1938, no estado de Ogun, na Nigéria, ele era filho da classe média local, educado com hábitos ocidentais pelo pai, pastor anglicano, e pela mãe, importante ativista feminista. Aos 20 anos, partiu para Londres para estudar medicina e seguir o mesmo destino de dois irmãos, porém, era a música e suas vertentes rítmicas que faziam, de fato, a sua cabeça. Na capital inglesa, Fela Cuti se casou com Remi Taylor, com quem teve três filhos, e em 1961 formou a banda Koola Lobitos, que tinha como base o jazz e o highlife, um estilo musical que dominava o oeste da África.

Diplomado em música com especialização em sax (seu instrumento preferido), Fela voltou para a Nigéria em 1963, onde gravou alguns discos sem muita repercussão. Na verdade, o inquieto jovem queria algo diferente, novo, um caminho musical autêntico. E foi em uma visita a Acra, capital de Gana, que tudo começou a fazer sentido para ele. Um show de Geraldo Pino o deixou de queixo caído. Pino já destilava as influências do soul e do funk norte-americanos. Era aquilo! De volta os Estados Unidos, em 1969, Fela Kuti fez alguns shows com o Koola Lobitos, mergulhou no funk, passou a ter contato com o Movimento Black Power e com as músicas de James Brown. Pronto! As ideias dos Panteras Negras passaram a influenciar fortemente as letras de suas canções. Com a consciência política, a crítica aos governos, a reivindicação se unindo à mistura de ritmos, a alquimia aconteceu. Uma combinação pra lá de explosiva!

Sem visto de trabalho, porém, ele e a banda foram obrigados a deixar o solo americano, não sem antes realizar uma sessão de gravação em Los Angeles que, mais tarde se tornaria o álbum The ’69 Los Angeles Sessions. Outra vez na Nigéria, Fela rebatizou a banda, e Nigéria’70 e depois Afrika’70 e, com os ideais do líder Malcolm X na cabeça, começavam a ecoar os primeiros acordes de um capítulo importante da história da música africana e mundial!  Na virada dos anos 60 para os 70, o músico nigeriano Fela Kuti (1938 – 1997) não se destacou no cenário internacional apenas por ter criado esse “caldeirão de ritmos” chamado afrobeat, que chegou a arrancar elogios efusivos do próprio James Brown. Ele também cumpriu importante papel político na Nigéria e em toda África, protestando contra os regimes autoritários em seu país e no continente. O discurso de contestação o levou a transformar sua casa em uma república independente da ditadura nigeriana, onde vivia com outros músicos e suas 27 esposas – muitas delas, dançarinas e vocalistas que o acompanhavam no palco. Fundada em 1974, a República Kalakuta, como ficou conhecida, tornou-se uma trincheira de resistência política e cultural, onde as mulheres atuavam ativamente – inclusive, na defesa do local contra os ataques do exército nigeriano. O grande sucesso de Zombie, em 1977, denunciando os desmandos e ridicularizando o exército, despertou a fúria incontrolável do, então, presidente Olusegun Obasanjo. Entre as incontáveis invasões das forças armadas à comuna Kalakuta, espancamentos, prisões e outros atos de violência, um episódio marcou profundamente a vida do artista, quando cerca de mil militares os atacaram, destruíram instrumentos e gravações raras, incendiaram a casa e o estúdio. Sua mãe, Funmilayo Kuti, já idosa, foi arremessada pela janela da casa e morreu. Como reação, Fela enviou o caixão da mãe ao quartel general, em Lagos, com as gravações das canções Coffin for Head of State (Caixão de Chefe de Estado) e Unknown Soldier (Soldado Desconhecido), uma ironia à declaração oficial de que a violenta agressão partiu de um soldado não identificado.

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