O novo Papa, Leão XIV, tem se mostrado um líder religioso comprometido com as causas sociais e humanitárias importantes para os dias de hoje. Sua postura em relação a temas como o racismo, a imigração e a pena de morte, é extremamente progressista e alinhada com a do seu antecessor, o Papa Francisco. É bom pontuar que em casos como o assassinato de George Floyd, ele se posicionou de forma veemente contra o racismo e a violência policial, demonstrando sua preocupação com a justiça social e a igualdade.
Além disso, Leão XIV também se manifestou contra as políticas de deportação de imigrantes implementadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lembrando que os mais afetados por essa política têm sido os não brancos daquele país, latinos, muitos de descendência indígena, asiáticos, africanos e árabes. Ele criticou a decisão de enviar deportados para prisões em El Salvador e questionou a moralidade de banir refugiados sírios, que buscam ajuda e proteção. Sua postura é um lembrete de que a Igreja Católica deve ser um refúgio para os mais vulneráveis e um defensor dos direitos humanos.
A posição do papa em relação à pena de morte também é digna de nota. Ele afirmou que a Igreja não admite a pena de morte em nenhuma circunstância, enfatizando a importância da vida e da dignidade humana, lembrando novamente que grande parte dos encarcerados naquela “América”, que estão no corredor da morte, é formada por pessoas negras. Essa postura é um testemunho da evolução da Igreja Católica em relação a temas que afetam a humanidade e demonstra que Leão XIV está comprometido em promover a vida e a justiça.
Só por essas posturas, conseguiríamos dizer que o novo Papa tem estado completamente alinhado com causas que estão vinculadas à luta por igualdade racial e justiça social. Poderíamos até afirmar que o Papa é um dos nossos aliados; ao estudar um pouco a biografia de Leão XIV, descobrimos que não por acaso ele cresceu em um bairro periférico da Chicago, de forte influência e descendência negra, um lugar que diz muito sobre algo que os Estados Unidos têm em comum com o Brasil, com muito menos incidência que aqui: a miscigenação.
O Papa Leão XIV, nascido Robert Francis Prevost, em Chicago, sua recém-descoberta herança crioula está provocando uma profunda conversa sobre as camadas intrincadas e frequentemente negligenciadas da identidade americana, da questão racial e da Igreja Católica. Pesquisas genealógicas recentes revelaram que a linhagem materna do Papa Leão XIV remonta à vibrante comunidade crioula de Nova Orleans. As quatro bisavós maternos dele foram classificadas como “pessoas livres de cor” nos registros censitários da Louisiana do século XIX, situando sua ancestralidade dentro do tecido cultural e racial único dos crioulos da Louisiana – um grupo historicamente definido por uma mistura de heranças francesa, espanhola, africana e indígena.
Sua mãe, Mildred Martínez, nasceu em Chicago em 1912, após seus pais, Joseph Norval Martinez (um fabricante de charutos nascido no Haiti) e Louise Baquié, migrarem do histórico Sétimo Distrito negro de Nova Orleans. Embora a família tenha se identificado como branca após a mudança para o norte, registros censitários e genealogistas confirmam suas raízes crioulas e negras, destacando a fluidez e a complexidade da identidade racial nos Estados Unidos.
A identidade crioula na Louisiana surgiu dos encontros coloniais e da estrutura social única de Nova Orleans, onde pessoas livres de cor formaram uma classe distinta com suas próprias instituições culturais, religiosas e sociais. Essa identidade frequentemente desafiava o rígido binarismo racial do sul dos EUA, permitindo tanto a resistência quanto a navegação em sistemas opressivos. Muitos crioulos, incluindo os da família do Papa Leão, utilizaram seu status ambíguo para acessar certos privilégios, ao mesmo tempo em que enfrentavam discriminação – uma dualidade refletida na mudança de identificação racial da família Prevost após a mudança para Chicago.
A eleição do Papa Leão XIV foi celebrada nas comunidades católicas negras e crioulas de Nova Orleans, que veem sua herança como um reconhecimento há muito esperado das contribuições dos católicos negros – um grupo cuja história frequentemente foi marginalizada tanto nas narrativas da Igreja quanto nas nacionais. Sua origem também ressoa com a população majoritariamente negra e predominantemente católica da cidade, muitos dos quais compartilham histórias ancestrais semelhantes de migração, “passing” racial e resiliência cultural.
A linhagem crioula do papa destaca as histórias profundamente entrelaçadas de raça, religião e migração nos Estados Unidos. Também evidencia que a identidade americana – e, por extensão, a comunidade católica global – é muito mais diversa e complexa do que normalmente se reconhece.
Uma “História Tipicamente Americana”
Como descrevem historiadores e líderes locais, a ancestralidade do Papa Leão XIV é emblemática da experiência americana: moldada pela colonização, escravidão, migração e pela constante negociação de identidade diante de categorias sociais rígidas. Sua história desafia narrativas simplistas sobre raça e pertencimento, convidando a uma reflexão mais ampla sobre os legados de exclusão e as contínuas contribuições dos católicos crioulos e negros, tanto para a Igreja quanto para a sociedade americana.
“Eles eram uma família de crioulos de cor – crioulo indicando sua herança cultural enraizada na Louisiana, que tem origens nas colônias francesa e espanhola, além de uma presença significativa da África Ocidental. “De cor” denota sua origem racial mista”, explicou Jari Honora, o genealogista que descobriu a linhagem do papa, uma linhagem com forte presença negra.