A origem negra do tango.

Quando você visita Wikipedia em Português e busca a palavra “tango” você encontra um silêncio curioso. A explicação extensa e detalhada da origem histórica da música e da dança que tem caracterizado o Rio da Prata ignora absolutamente as raízes africanas, que obviamente ele contém, tanto em seu nome como na sua estrutura musical.

O pesquisador argentino Nestor Oderigo Ortiz (1914-1996), que iniciou os estudos africanos aqui na Argentina descreve, em seu Dicionário africano em espanhol do Rio da Prata (UNTREF, 2007) que a palavra “tango” é uma deformação o nome de Xangô, orixá do trovão e tempestades e patrono da música, para os iorubas da Nigéria.

O escritor uruguaio Vicente Rossi (1871-1945) foi o primeiro estudioso da música do Rio da Prata a sustentar com firmeza que a palavra já aparece em 1808, pedindo ao governador a proibição do “tango dos negros”, referindo-se aos locais onde a população de ascendência africana se reuniram para celebrar suas festas.

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Esta ideia gerou uma resistência aos amantes brancos do tango. Seu livro Cosas de Negros, publicado em 1926 com várias edições até hoje. É o texto inicial das investigações sobre a reza africana no Rio da Prata. Ainda que Rossi desconhecia as línguas africanas e atribui a palavra “tango “um origem que imita ao som, durante todo o século XIX palavra esteve intimamente relacionada com a  cultura da população africana. Da mesma maneira a “milonga” – um sub gênero da música prótese com uma origem camponesa – uma palavra em  kimbundu, formada por o prefixo “mi” y “longa”, significa palavras, querem dizer ” latitude de palavras”, ” palavras vazias”, ” disputas de palavras. Milonga a terminado por converter-se em sinônimo de baile ou de lugar para dançar.

Os brasileiros que conhecem e aproveitam da dança do tango (que são cada vez más) entendem o sentido da pergunta “A que milonga vamos esta noite” . A resposta poderá ser ” segundo os dias da semana á milonga de La Ideal “segunda -feira, na quarta del Canning,  Niño Bien na sexta-feira, legendaria de Sunderland.

A população africana em Buenos Aires diminui drasticamente como consequência tanto das Guerras de Independência -os africanos sempre foram excelentes guerreiros- e da peste de febre amarela que castigou a cidade em 1871. Também   a sofrido uma  invisibilização sistemática por parte do sistema oficial. No entanto, o tango e a milonga continuam sendo a marca clara da importância cultural que os africanos de origem escravizada tiveram   e tem no Rio Prata.

Francilene Martins

Jornalista, ativista negra, residente de Buenos Aires onde conclui seu doutorado. Escreve semanalmente para a Revista Raça sobre a presença negra na América Latina.

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Administrador de Empresas, com MBA pelo Insper, possui curso de especialização em Liderança pelo Insead e FGV-CEO. Atualmente, ocupa a posição de Chief Operating Officer na Amil.

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