A partilha da África – um crime premeditado e suas consequências.

Colunista: Zulu Araújo

Durante oito semanas, publiquei aqui, na Revista Raça, os principais danos (genocídios, massacres, pilhagens, roubos de todas as ordens, estupros em massa, escravizações, etc.) causados pelos países europeus, em particular a Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Itália e Portugal à África após a criminosa partilha do continente na famosa Conferência de Berlim (1884/85), comandada pelo chanceler alemão Otto Von Bismarck.


Nesta série de artigos denunciamos de um lado, a farsa que a Europa tenta impingir ao mundo, desde o século XVIII de que a liberdade, a igualdade e a fraternidade são bens que estão disponíveis para todos e de outro, os crimes de lesa humanidade que foram cometidos pelos europeus e seus asseclas no continente africano, até hoje, impunes. Enfim, a brutalidade da qual se revestiu o colonialismo europeu no continente africano.


Lamentavelmente, cada um dos países elencados acima, teve um massacre ou genocídio para chamar de seu, com lugar especial para os belgas que assassinaram mais de 10 milhões de africanos em nome do lucro fácil, com a conivência das potências mundiais de então. Mas, apesar dos horrores da colonização, a Europa e suas lideranças, sempre justificaram que tais atos eram realizados em nome de Deus, da moral e dos bons costumes da civilização ocidental cristã.


Em nome dessa civilização, tesouros de valores incalculáveis foram simplesmente roubados dos povos africanos para serem exibidos garbosamente nos museus europeus, rendendo a presença de milhões de turistas, bem como proporcionando milhões de euros para os cofres desses países.


Exemplos não faltam nesse sentido: os Bronzes do Benin, esculturas e placas que embelezavam o palácio real (Obá do Reino do Benin), está incorporada a Inglaterra. A Pedra de Roseta, do Egito, que contém hieróglifos do Egito Antigo, está no Museu Britânico. A escultura em madeira da Rainha Bangwa da República dos Camarões, (uma das peças mais famosas do mundo, sagrada para os Camaroneses) roubada pela Alemanha, foi vendida em leilão e arrecadou 3.4 milhões de dólares (18 milhões de reais).
Vários historiadores denunciam que o roubo dos tesouros etíopes pelo exército ingles, em 1808, foi de tal monta que foi necessário 15 elefantes e 200 mulas para carregar tudo que foi surrupiado pelos britânicos do Imperador Tewodros II, de Magdala, uma das cidades mais ricas e importantes da Etiópia.
Repito, tudo isso feito em nome de Deus e da civilização ocidental. Afinal, para os europeus o continente africano era habitado por “selvagens”, que sequer possuíam alma, num estágio tão primitivo que eram incapazes de se auto governarem, necessitando então, serem convertidos ao modo cristão de ver, sentir e estar no mundo.


Passados 139 anos da fatídica Conferência de Berlim, os números do Banco Mundial não deixam dúvidas quanto ao principal legado deixado pela Europa no continente africano: a miséria. Hoje, “um subsaariano da África, ganha em média 1.700 dólares por ano, enquanto a renda média dos cidadãos da zona do euro é de 37.400 euros.
É nesse cenário que a União Africana (UA), criada pelas nações africanas em 09 de julho de 2002, em sucessão a Organização da Unidade Africana (1963), composta por 55 países e que tem por objetivo a promoção de “Uma África Integrada, Próspera e Pacífica, impulsionada por seus próprios cidadãos e representando uma força dinâmica na arena global”, está enfrentando o legado nefasto deixado pelos europeus.


Além disso a União Africana concebeu e apresentou ao mundo, o NEPAD (Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano), com a finalidade de promover o renascimento africano a partir da superação dos atuais desafios que o continente enfrenta, promovendo sua renovação cultural, cientifica e econômica. Ou seja, a luta continua tanto para os africanos como para os afrodescendentes em diáspora. Viva a África!


Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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