Revista Raça Brasil

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A pista de dança como herança e resistência da cultura negra

Os artistas participam no feriadão de abril Gop Tun Festival, evento independente referência na música eletrônica da América Latina

Por três gerações, a família Pereira tem contado histórias por meio da música. Hoje, o projeto Veraneio, liderado por Dinho e Jean Pereira — mantém viva a tradição dos bailes black e reafirma a pista de dança como espaço de celebração, identidade e resistência cultural negra.

Com raízes na disco-music e nos ritmos eletrônicos contemporâneos, a dupla combina pesquisa musical e vivência para transformar suas apresentações em verdadeiras homenagens ao legado familiar e à força da cultura negra.

A ponte entre disco e música eletrônica

Para os DJs Dinho e Jean Pereira, a relação entre disco-music e música eletrônica vai além de uma simples evolução cronológica.

“A música eletrônica é sim uma evolução da disco music, mas não enxergamos com tanta linearidade, com tanta simplificação. O elo mais forte dessa corrente é que ambas têm uma relação direta com a dança”, afirmam.

A dupla cita referências como Gary’s Gang com “Keep On Dancin’” e Marshall Jefferson com “Move Your Body” para reforçar a centralidade do corpo e da dança na construção desses gêneros.

“Sem a dança, esses gêneros talvez não existiriam. Os samples da disco, os compassos por vezes semelhantes e as referências ao funk-soul têm uma razão de ser que, para nós do Veraneio, é interpretada como compreensão da disco e uma adoção do que é prudente adotar para continuar a jornada desses que são referenciados.”

A transição da disco para a eletrônica também envolve contextos sociais e industriais marcantes. Episódios como a “Disco Demolition Night” — evento em que discos de disco-music foram destruídos num estádio de baseball nos EUA — são apontados por eles como exemplos das tensões culturais e raciais que permeiam essa transformação.

“A música eletrônica emerge dessa ruína, não só com novidades na transferência do orgânico para o eletrônico, mas também na necessidade de uma sonoridade fidedigna para as pistas de dança da época.”

A pista como território de resistência negra

No Veraneio, a pista de dança é mais do que um espaço de lazer: é um campo simbólico de construção de identidade e resistência negra.

“Na pista de dança são digeridas muitas das ideias sobre identidade, coletividade, consciência política, dignidade”, afirmam os DJs.

Eles citam o movimento paulistano do samba-rock como exemplo dessa longevidade e força coletiva:

“O samba-rock, do qual a família Pereira sempre fez parte, vem juntando os agitadores culturais da dança, os que dançam por amor e o discotecário há cerca de cinquenta anos.”

Essa resistência, segundo eles, segue viva e pulsante, mesmo sendo constantemente desafiada:

“É uma resistência tão forte e viva que joga na dança aqueles que um dia tentaram reprimir, esconder ou inviabilizar de muitas formas.”

Cultura negra: origem e essência da disco e da eletrônica

Quando questionados sobre a influência da cultura negra nesses estilos, a resposta é direta:

“Esses gêneros musicais não só foram influenciados pela cultura negra — na verdade, são fruto, são parte da cultura negra.”

A permanência e reinvenção desses ritmos ao longo das décadas também estão ancoradas na memória coletiva e na potência dos bailes e festas negras.

“O que nos assegura disso é a memória popular sobre a dança, o grande guarda-chuva que engloba o que chamamos de ‘black music’ e a cultura de bailes.”

Veraneio: som e legado em movimento

O projeto Veraneio é também uma homenagem à história de sua própria família. Seu nome faz referência à Veraneio C-1416 de 1966, carro que transportou as gerações da família Pereira em direção aos bailes, festas e encontros culturais.

Com base na “brasilidade groove e soul-funkeada”, Dinho e Jean realizam um set que passeia entre o passado e o presente, misturando com elegância referências da disco-music e da música eletrônica contemporânea.

Gop Tun Festival 

Os artistas participam no feriadão de abril Gop Tun Festival, festival independente de música eletrônica, que chega à sua quarta edição nos dias 19 e 20 de abril, antecedendo o feriado de Tiradentes. Será no Estádio do Canindé, que fica no bairro paulistano da Mooca. 

Idealizado por Bruno Protti, Caio Taborda, Fernando Nascii e Gui Scott, Gop Tun é um coletivo e selo musical fundado em 2012 com o objetivo de criar e difundir espaços para a música eletrônica, sempre de olho nas novas tendências musicais e diversificando os espaços a fim de encontrar “a melhor pista”. Conhecido pela curadoria musical em suas festas, produziu alguns dos maiores eventos da cena eletrônica nacional, como o Dekmantel Festival São Paulo e showcases do selo que já passaram por Lisboa e Berlim.

SERVIÇO – GOP TUN FESTIVAL 2025:

Gop Tun Festival 2025: 19 e 20 de abril de 2025

Horário: Sábado, dia 19: das 15h à 1h

Domingo, dia 20 (véspera de feriado): das 15h às 5h

Endereço: Rua Comendador Nestor Pereira, 33 – Canindé, Live Stage Canindé –

São Paulo – SP

Valor: a partir de R$ 250, sujeito a término de lote

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