A posse negra mais aguardada do governo Lula

Brasília, 27 de setembro de 2024, toma posse a nova ministra dos Direitos Humanos e Cidadania do Brasil, Macaé Evaristo. Evento aguardado com bastante expectativa, que mistura muitos sentimentos presentes na luta por direitos humanos no país: orgulho de ver uma mulher negra assumindo esse cargo, a certeza de que a pasta continuará tendo à frente a representatividade da parcela que tem seus direitos mais violados, inclusive pelo Estado brasileiro, seja de forma direta, como a violência policial contra a juventude negra em todo o território nacional, ou indireta, como a negligência à saúde, à educação, à moradia e outras violações que dizem respeito aos direitos humanos básicos para nossa existência como seres humanos, aliás, pontos destacados no pronunciamento de posse da nova ministra.

Como se não bastassem esses desafios que parecem distantes da pasta, a nova ocupante da pasta também encarou em sua chegada a maior crise institucional até agora do governo Lula, que culminou com a queda do ex-ministro Silvio Almeida. Por isso seu nome, quando apresentado, foi inconteste não apenas por ser uma mulher negra mas pela vasta experiência técnica, uma vez que ocupou cargos no Ministério de Educação, foi secretária de Educação de Belo Horizonte e, principalmente, pela respeitabilidade que tem dentro do movimento negro brasileiro, respeito esse esboçado na própria posse que contou com a presença de grandes nomes dessa causa na atualidade, como o jovem deputado Renato Freitas.

“Chega de luto e vamos à luta.” Se a frase de efeito marcou a chegada da Macaé ao ministério, em seu discurso de posse outras falas ficaram evidentes no profundo compromisso da nova ministra com a pauta dos direitos humanos e a luta contra o racismo, como esboçou em seu discurso, cujo ponto alto foi ao lembrar o preço que o Haiti pagou e paga até hoje de grandes potências como a França por ter ousado ser a primeira república negra a se livrar da escravização.

Ainda é cedo para dizer que a ferida aberta com o lamentável episódio que envolveu a pasta dos direitos humanos já tenha sanado, mas o clima que pude assistir aqui na posse da ministra é de apoio incondicional à pauta dos direitos humanos, que diz respeito diretamente à pauta racial, pois todas as violências e desrespeitos a esses direitos chegam primeiro às pessoas negras representadas em quaisquer grupos minorizados e discriminados no Brasil. Se aqui é o país que mais mata o grupo LGBTQIA+ no mundo, negros são a maioria e os primeiros a morrerem; se é um dos países onde a prática do feminicídio mais acontece na atualidade, mulheres negras encabeçam a lista das vítimas dessa atrocidade, violência essa estendida à juventude negra, aos que aguardam por justiça dentro dos abarrotados presídios brasileiros e outras violências diretamente ligadas aos direitos humanos.

Somos o maior país negro fora da África, como gosto sempre de lembrar, incansavelmente em meus artigos. A melhoria dos indicadores sociais e raciais, que começa pelo respeito aos direitos humanos, é mais que um compromisso, é uma responsabilidade moral que esse país tem com o processo civilizatório.

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jornalista CEO e presidente do Conselho editorial da revista RAÇA Brasil, analista das áreas de Diversidade e inclusão do jornal da CNN e colunista da revista IstoÉ Dinheiro

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