A segurança da população esta em risco.
Zulu Araújo
A ação das polícias militares nos últimos dias está deixando o país assustado. Os estados de São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro contabilizaram 49 mortos nas ações das suas forças de segurança, no último final de semana. (Dezesseis mortos em São Paulo, 23 na Bahia e 10 no Rio de Janeiro). O assunto tomou conta das redes sociais e da grande imprensa, notadamente em relação as mortes ocorridas em São Paulo, visto que o Governo do Estado defendeu abertamente as ações violentas da PM, mesmo com as fortes evidências de se tratar de um processo de retaliação indiscriminado a população da baixada santista, após a morte de um dos policiais da Rota.
Para que tenhamos a dimensão da letalidade dessas polícias estaduais, na Guerra entre a Rússia e Ucrânia, com ataques de mísseis, drones e combates entre as tropas dos dois países, morreram apenas 04 pessoas no último final de semana. Acrescentemos ainda, um detalhe. Todas as ações das policias militares, nos três estados, ocorreram em áreas periféricas das grandes cidades, onde a maioria absoluta da população é formada por negros e pobres.
Alguma coisa está fora da ordem. A semelhança do modus operandi nos três estados é surpreendente. Senão vejamos: Incursão da PM em bairros populares densamente povoados, troca de tiros com traficantes, condução dos feridos para os hospitais da região, onde todos chegam invariavelmente mortos. Logo em seguida a população se manifesta nas ruas acusando os policiais de terem atirado indistintamente nos seus moradores, invadido suas casas, torturado vários deles, além de provocar a morte de inúmeras vítimas inocentes, com as chamadas “balas perdidas”. E a resposta das polícias, por meio dos seus porta vozes, é invariavelmente a mesma: que lamentam o ocorrido, que vão apurar, mas que infelizmente esse é o “dano colateral” inevitável no combate ao tráfico de drogas.
Essa conta não fecha. Pelo contrário, está na contramão das ações que o Governo Federal, por meio do Ministério da Justiça, tem adotado para reduzir a violência em nosso país. A exemplo do novo decreto publicado pelo Presidente Lula, no último dia 21 de julho, que restringe a aquisição de armas e munições, cria regras para a instalação de clubes de tiros e reduz o tempo de validade para o transporte e uso de armas de fogo. Ao que parece, nessas operações policiais, o que menos importa é a vida dos cidadãos e cidadãs.
Na verdade, esses números assombrosos da letalidade policial no Brasil, é fruto de uma concepção de segurança pública anacrônica e mortífera, que advoga que “bandido bom é bandido morto”, desde que o bandido seja preto ou pobre. Essa concepção comprovadamente ineficaz, visto que em nenhum local onde foi aplicada reduziu a violência, ao contrário, as pesquisas indicam o seu aumento, é defendida por setores políticos declaradamente antidemocráticos, a exemplo da chamada bancada da bala no Congresso Nacional que desejam suspender até mesmo as câmeras nas fardas policiais, essas sim que comprovadamente tem reduzido a letalidade policial.
Por isso mesmo, há fortes suspeitas entre estudiosos e pesquisadores da segurança pública de que essa violência extremada seja algo articulado e que busca por em cheque o estado democrático de direito. Afinal, o país possui leis, instituições e regramento jurídico para o enfrentamento e a punição de criminosos, que tem sido solenemente ignorados. Não nos esqueçamos de que a pena de morte, não faz parte desse escopo, nem muito menos as forças de segurança tem autorização para matarem indiscriminadamente seus cidadãos, em nome da segurança pública.
Mais do que nunca é necessário que os setores progressistas, o movimento negro, a sociedade civil organizada e seus representantes no legislativo e no executivo, juntamente com o Judiciário, busquem soluções para frear essa violência, prendendo, julgando e condenando os criminosos. Não é justo que aqueles que garantiram a continuidade da democracia no país, paguem com suas próprias vidas por sua coragem.
Toca a zabumba que a terra é nossa!