A voz que ninguém escutou, de Renan Silva

Livro é vencedor do Prêmio Kindle de Literatura 2024.

Há alguns meses, recebi o livro “A voz que ninguém escutou” com uma linda dedicatória do autor, Renan Silva. Coloquei estrategicamente na estante, em um lugar reservado às leituras que gostaria de fazer ainda em 2024. 

Cheguei até a divulgar uma lista dos livros lidos em 2024, sem citar, porque achei que não teria tempo para ler o romance premiado. Contudo, aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, no final da tarde do dia 31/12/24, conclui o livro. Devorei o conteúdo em dois dias, tamanha minha sede por um desfecho, que, para a minha surpresa, foi libertador, acalentador e doce. 

Adoro ficar imaginando as características de quem escreve e atribuir, a partir do que leio, habilidades para os autores e autoras. No caso de Renan Silva, imaginei um jovem romancista-historiador com tino de repórter investigativo. 

Esse narrador vai, meticulosamente, colocando as trajetórias de Maria, Inês e Inácio em momentos importantes da história recente do país. 

De um jeito muito particular, ao escolher a origem, a raça/cor e a classe social das personagens, acaba fazendo uma contundente crítica aos fatores que perpetuam as profundas desigualdades brasileiras. 

O contexto encontrado por Renan para contar a saga de uma família retirante é o Brasil moderno, que não poupou esforços para se criar na cortina do autoritarismo e das falsas esperanças de um mundo melhor. 

Tudo começa pela genuína vontade de Maria em ter uma carteira de trabalho assinada. E termina com o desejo de sua neta, Vânia, de se entender e preencher lacunas que ela descobre tão profundas ao ler o diário de sua mãe, Inês. 

Cabe destacar que, em tempos de celebração do premiado filme de Walter Salles, “Ainda Estou Aqui”, é extremamente importante a contextualização de Renan Silva, que visita parte desse mesmo período da história do Brasil, a ditadura militar.

“[…] levaram … para a tão falada Casa Amarela. Ela pensou em perguntar para onde a estavam levando, mas ficou com receio da resposta. Resignou-se aguardando o pior”. 

“A voz que ninguém escutou” inova e em reivindica lugar de fala ao colocar Maria, Inês e Inácio no centro de um período tão documentado em livros, no cinema e reportagens, mas que ainda insiste em ignorar os pobres, os negros, os nordestinos e as mulheres como atores centrais da história do Brasil. 

Renan, querido, desculpe a intimidade. Que bom que você está aqui! 

Título: A voz que ninguém escutou

Ano: 2024

Editora: José Olympio

Páginas: 304

Sobre o livro: Neste romance de estreia, Renan Silva, vencedor do Prêmio Kindle de Literatura 2024, narra a saga de uma família que, ao afirmar a própria existência, inventa também uma nova nação que responde pelo mesmo nome: Brasil. Vânia é uma jornalista em ascensão. Recém-separada, ela se divide entre a redação de O Redentor e o cuidado com seu filho pequeno. Sua rotina muda quando, de repente, recebe a notícia de que sua mãe, Inês, tentou suicídio e sofreu uma grave lesão que a deixou em estado vegetativo. Ao rememorar Inês, Vânia se dá conta de que há muitas lacunas na história de vida de sua mãe. Assombrada pela ideia de que nunca mais teria a chance de conversar com ela, Vânia vasculha as gavetas do quarto de Inês e encontra algo inesperado: um diário. Ali, nos detalhes da vida da mãe, Vânia encontra tudo o que faltava: a história de sua avó materna, Maria; a juventude e as escolhas políticas de Inês; suas predileções afetivas, entre muitas outras revelações.  Em A voz que ninguém escutou, Renan Silva, vencedor do Prêmio Kindle de Literatura 2024, parte de um acontecimento trágico para narrar a saga de uma filha zelosa. Em uma trama emaranhada junto a história recente do Brasil, ela encontra condições para refazer os passos de cada membro de sua família, numa investigação eletrizante que não apenas revela sua origem, mas também expõe a realidade cruel que a forjou.  

Comentários

Comentários

About Author /

Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.

Start typing and press Enter to search

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?