Gabriel dos Santos Vieira estava na garupa de uma moto de aplicativo quando foi atingido por tiros durante tiroteio; Em 2023, 86,9% dos mortos pela PM do Rio de Janeiro eram negros
Um adolescente de 17 anos morreu após ser atingido por tiros durante uma troca de disparos entre policiais militares e suspeitos armados na Zona Norte do Rio de Janeiro. Gabriel dos Santos Vieira estava na garupa de uma moto de aplicativo, a caminho de um trabalho temporário, quando foi baleado na noite da última quarta-feira (30), por volta das 22h, na Avenida Adhemar Bebiano, no bairro Engenho da Rainha.
Morador do Complexo do Alemão, Gabriel conciliava o emprego fixo como assistente de pizzaiolo com apresentações como bailarino. Naquele dia, havia sido contratado para dançar em uma festa de debutante em Madureira. Para chegar ao local, solicitou uma corrida por mototáxi. O piloto, Vanderson Ferreira Nascimento Pinto, de 40 anos, também foi baleado — ao menos três vezes — e está internado no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha.
De acordo com a Polícia Militar, agentes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Alemão realizavam patrulhamento na região quando tentaram abordar dois carros suspeitos. Segundo a corporação, os ocupantes dos veículos reagiram com tiros e houve confronto. Ainda conforme a PM, Gabriel e Vanderson passavam pela via no momento da troca de tiros e foram atingidos.
A cena do crime foi periciada pela Polícia Civil, que identificou cinco perfurações de bala nas costas de Gabriel. Os policiais usavam câmeras corporais, segundo a PM, e um procedimento foi aberto para apurar a conduta dos envolvidos.
O caso reacende o debate sobre a atuação da polícia em áreas urbanas densamente povoadas e a frequência com que moradores inocentes são atingidos durante operações.
Dados da Rede de Observatórios da Segurança, divulgados em novembro de 2024, mostram que 86,9% das pessoas mortas por ações policiais no Rio de Janeiro ao longo de 2023 eram negras. O número escancara o perfil racial das vítimas da violência estatal e levanta questionamentos sobre o uso da força nas favelas e periferias da cidade.
A morte de Gabriel, um jovem trabalhador, engrossa as estatísticas da violência que assola o cotidiano da cidade. Enquanto a investigação busca esclarecer as responsabilidades no episódio, familiares cobram justiça e esperam que o caso não seja mais um a cair no esquecimento.