Adolescente negro é impedido de entrar no Shopping RioMar e filma abordagem de seguranças; ‘Me tirou como marginal’, diz
Em vídeo gravado pelo jovem, seguranças não explicam motivação do impedimento. Shopping pediu desculpas.
Um adolescente negro, de 17 anos, foi impedido por três seguranças de entrar no Shopping RioMar, no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife. O caso, investigado pela Polícia Civil como racismo, aconteceu na noite da quinta-feira (21) e, nesta sexta-feira (22), Mayck Raphael contou ao g1 que o caso aconteceu quando foi fazer a troca de uma roupa junto com o irmão, de 13 anos.
Ao chegarem ao shopping, os dois adolescentes foram impedidos por funcionários da empresa terceirizada SegurPro de subir a escada rolante que dá acesso às lojas. Nesse momento, Mayck começou a filmar a situação
Para o estudante, a situação foi um caso de racismo. Ele registrou boletim de ocorrência no Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA). O Shopping RioMar pediu desculpas pelo ocorrido (veja respostas mais abaixo).
“Quando eu cheguei na escada para subir para o primeiro andar, eles não deixaram.
Botaram o corpo na minha frente. Não me deixaram passar e também não disseram o motivo de eu não [poder] passar, só ficaram dizendo que eu não ia subir”, contou Mayck.
No vídeo feito por Mayck, é possível ouvir quando ele questiona repetidas vezes o porquê de ele e o irmão serem os únicos clientes impedidos de acessar o shopping.
Enquanto isso, as imagens mostram outras pessoas utilizando a escada rolante sem sofrer qualquer tipo de abordagem pelos seguranças. “Por que eles podem subir e eu não posso? O que é que eles têm de diferente de mim?”, questionou o adolescente.
Em um trecho do vídeo, também é possível ouvir uma mulher perguntando se “pode subir”, e, diante da resposta afirmativa dos seguranças, Mayck respondendo “só quem não pode é a gente, que ele barrou não sei por quê”.
Ainda de acordo o Mayck, ele precisou esperar cerca de seis minutos até que um quarto funcionário, que seria supervisor, chegasse.
Esse homem teria explicado que os dois adolescentes foram impedidos de acessar o shopping por conta da Lei Miguel, que crianças menores de 12 anos andem de elevador desacompanhadas de um adulto.
Entretanto, nenhum dos dois era menor de 12 anos e, além disso, eles tentaram subir de escada rolante, não de elevador.
“Em momento nenhum eles pediram para eu me identificar. Eles só disseram ‘não vai subir não, boy’, achando que eu ia fazer ‘maloqueiragem’ lá em cima. O supervisor até falou para mim que estava tendo muito marginal na praça de alimentação perturbando. Ou seja, ele me tirou como marginal, um maloqueiro”, afirmou.
Mayck disse que acredita ter sido barrado por causa da cor da pele.
“Eu entrei chorando na loja. Meu irmão ficou nervoso porque ele nunca tinha visto uma situação assim. É uma criança, né. Ele não quer nem ir para shopping mais”, completou Mayck.
Respostas
Procurado pelo g1, o Shopping RioMar disse que a atuação foi inadequada e pediu desculpas pelo ocorrido. Disse, ainda, que o prestador “que iniciou a atuação errada” foi afastado, mas não especificou qual deles entre os que aparecem no vídeo, nem informou se algum dos outros dois seguranças sofreram alguma punição.
Nesta sexta-feira (22), Mayck foi com a mãe ao Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente, no bairro da Madalena, na Zona Oeste do Recife, para prestar queixa da abordagem.
Procurada pelo g1, a Polícia Civil informou que registrou o caso como racismo/preconceito/discriminação, e que “um inquérito foi instaurado e as investigações prosseguem até esclarecimento dos fatos”.
A SegurPro, empresa terceirizada responsável pela segurança do shopping, enviou uma nota em que disse estar ciente do caso e à disposição das autoridades para os devidos esclarecimentos, além de que “adotará as medidas que forem cabíveis após a apuração do caso”.
A empresa também afirmou que “repudia qualquer tipo de discriminação e desempenha suas atividades respeitando a legislação em vigor. Reforça ainda que sua política interna promove o respeito aos direitos humanos como elemento essencial no desenvolvimento de suas atividades e aplica em suas práticas os direitos previstos na Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU”.