Revista Raça Brasil

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Adolescentes no alvo: Bahia bate recorde de jovens baleados em um mês

Dados do Fogo Cruzado revelam que dez adolescentes foram atingidos por armas de fogo em maio na Grande Salvador — o maior número já registrado. A maioria das vítimas é negra e vive em territórios periféricos.

A juventude negra segue sendo o principal alvo da violência armada na Bahia. Segundo o relatório mais recente do Instituto Fogo Cruzado, maio de 2025 foi o mês com maior número de adolescentes baleados desde o início da atuação da organização no estado. Foram dez jovens atingidos por disparos — quatro mortos e seis feridos — nas cidades de Salvador, Lauro de Freitas e Camaçari.

Entre os casos mais graves, está o de Ryan Gabriel Ferreira Santos, de 17 anos, morto no bairro do Uruguai, em Salvador, durante uma disputa entre grupos armados. Outros dois adolescentes, de 15 e 17 anos, também foram baleados na mesma ação. A escalada da violência reacende o alerta sobre a ausência de políticas públicas eficazes para a proteção da juventude periférica.

Violência concentrada nas periferias

O levantamento aponta que Salvador lidera o ranking da violência armada na região metropolitana, com 96 tiroteios em maio, resultando em 78 mortos e 21 feridos. Camaçari e Lauro de Freitas aparecem na sequência. Os bairros mais afetados foram Rio Sena, Águas Claras, Beiru/Tancredo Neves, Brotas e o Nordeste de Amaralina.

Entre as 150 pessoas baleadas em Salvador e RMS no período, 122 morreram. Do total de tiroteios registrados (137), 59 ocorreram durante ações e operações policiais — um aumento de 16% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

A maioria das vítimas era homem (117 mortos e 26 feridos), mas os dados mostram também o impacto da violência nas casas e espaços de convivência: 11 pessoas foram atingidas dentro de residências, 8 em bares, e outras em transportes e eventos.

Recorte racial e social

Dos mortos identificados racialmente, 65 eram pessoas negras. Apenas uma pessoa branca foi registrada entre os mortos. Em 80 dos casos não foi possível identificar a raça da vítima, refletindo ainda um déficit estrutural na coleta de dados raciais sobre a violência.

As estatísticas revelam ainda que três pessoas foram feridas por bala perdida e 15 pessoas morreram em chacinas, além de 12 mortes relacionadas a disputas entre grupos armados. Um agente de segurança, um mototaxista e um entregador também estão entre as vítimas fatais.

O relatório do Fogo Cruzado reforça o que movimentos sociais e especialistas denunciam há décadas: a juventude negra e periférica segue sendo sacrificada em nome de uma guerra que ignora seus direitos, sua dignidade e seu futuro.

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