Advogado negro relata ter sido barrado em bar por estar ‘parecendo segurança’
Juliano Trevisan escreveu uma carta aberta: ‘parte da sociedade insiste em relutar contra as inúmeras situações passadas hoje por negros, mulheres, gays e demais grupos de minoria, insistindo em dizer que o preconceito e a discriminação hoje em dia são mimimi’.
A carta aberta de um advogado negro que contou ter sido barrado em bar de Curitiba tem circulado nas redes sociais e expõe, mais uma vez, o preconceito e o racismo do dia a dia. Conforme o relato de Juliano Trevisan, ele foi impedido de entrar porque seria confundido com um segurança.
Camisa preta, calça social, sapato marrom e gravata preta. Essa foi a opção de Juliano Trevisan para sair de casa na quinta-feira (13) e participar de um evento para advogados. Em seguida, ele e os amigos decidiram ir à casa noturna. A escolha, entretanto, não foi considerada adequada pelos funcionários do James Bar.
“O funcionário me olhou dos pés a cabeça e informou que pelo meu estilo, com ‘a roupa que estava usando eu não poderia entrar’. (…) Na hora a situação me chocou tanto, que fiquei bobo. Não quis discutir, não quis “acabar com minha noite e de meus amigos”, então simplesmente falei que iria embora”, contou o advogado.
No início da tarde deste domingo (16), no Facebook, mais de 7 mil pessoas haviam demostrado uma reação à situação vivida pelo advogado. Mais de mil pessoas, decidiram compartilhar a história.
“Pra que um problema social seja resolvido, ele primeiro deve sempre ser apontado. Isto por que parte da sociedade insiste em relutar contra as inúmeras situações passadas hoje por negros, mulheres, gays e demais grupos de minoria, insistindo em dizer que o preconceito e a discriminação hoje em dia são ‘mimimi’”.
O racismo não é novidade para Juliano, que é militante e, como ele mesmo diz, trabalha com situações e discriminação em vários viés. “Mas quando acontece comigo, ainda fico chocado sem ação”, confessou.
“Me sinto humilhado, olhei mil vezes minha roupa, até entender que o problema não é minha roupa, não é meu estilo, não sou eu. E preciso sim, expor esta situação a vocês e demonstrar qual grave ela é, e o que ela representa sacialmente falando nos dias de hoje ‘parecendo um segurança'”.
O bar fez uma retratação pública a Juliano também no Facebook. Disse que a atitude dos funcionários foi errada e que não condiz com o que o bar acredita. Ainda conforme a retratação, a atitude dos funcionários foi arbitrária e, por isso, eles foram demitidos.
“Aprendemos muito com isso e estamos trabalhando para sempre oferecer um local seguro e justo, com a descontração de sempre. Que seja um lugar onde vocês se sintam à vontade para expressar a essência de cada um: tudo com base no respeito, na diversidade e na tolerância”, diz trecho do comunicado.
Leia a nota na íntegra
“Olá. Gostaríamos de fazer uma retratação pública ao Juliano Trevisan — e a todos vocês, que corretamente se solidarizaram com ele.
Infelizmente, ocorreu um episódio do qual devemos nos retratar e esclarecer o que aconteceu. Estamos muito chateados e envergonhados. Na noite de quinta-feira (13/07), o Juliano foi equivocadamente informado que não poderia entrar no bar por conta do que estava vestindo. Essa foi uma atitude errada e que não condiz com o que acreditamos.
Por mais que tentemos nos colocar no lugar do Juliano, não vamos conseguir entender a sensação de humilhação que ele sentiu no momento. Mas imaginamos algo muito triste e distante do que sempre queremos para todos. Toda vez que vocês pisam no James, desejamos que se sintam especiais, acolhidos e livres.
Ontem falhamos nessa missão por causa de uma atitude arbitrária dos funcionários envolvidos. Nossa decisão, portanto, foi desligá-los de nosso quadro, para que isso nunca mais ocorra.
Damos muita importância à participação de vocês — críticas e elogios — para que possamos evoluir e melhorar. Aprendemos muito com isso e estamos trabalhando para sempre oferecer um local seguro e justo, com a descontração de sempre. Que seja um lugar onde vocês se sintam à vontade para expressar a essência de cada um: tudo com base no respeito, na diversidade e na tolerância.”