África Fashion: exposição mostra história da moda africana

A criatividade e a forma genuína com a qual o continente africano vem conduzindo a moda através dos tempos estão reunidos na mostra “Africa Fashion”. A mais rica e extensa exibição contada até os dias atuais, na voz de quem realmente fez história, está em cartaz em Londres. Das fashion weeks e estilistas, passando pelos fotógrafos, ilustradores, modelos e maquiadores, a expo se propõe a dar voz e contextualizar quem foram os verdadeiros agentes de transformação pós-colonial no segmento – desde a moda de rua, o prêt-à-porter e o feito à mão, além de todo o ecossistema.

“Queríamos nos livrar de quaisquer estereótipos que a moda africana tenha ou possa parecer. Também adotamos, estrategicamente, uma abordagem a fim de nos permitir esquecer as fronteiras coloniais entre norte, sul, leste e oeste”, conta à Bazaar Christine Checinska, curadora sênior do museu Victoria & Albert South Kensington. A exibição, ela explica, celebra a vitalidade e a inovação dessa vibrante cena, respeitando o dinamismo de cada país. Afinal, seria impossível mostrar todas as vozes em uma região tão vasta.

Do Marrocos à África do Sul, do Senegal ao Quênia, você encontra trabalhos de designers vindos de mais de 20 países. “Celebração oportuna da vitalidade e inovação de uma seleção de criativos de moda, explorando o trabalho da vanguarda no século 20 e os designers no coração desta cena eclética e cosmopolita nos dias atuais”, afirma.

Boa parte das roupas são de coleções pessoais e arquivos dos próprios designers, como Shade Thomas-Fahm (Nigéria), Chris Seydou (Mali), Kofi Ansah (Gana) e Alphadi (Mali). Estilistas que fazem a história no presente, como Imane Ayissi (Camarões), IAMISIGO (da designer Bubu Ogisi, da Nigéria), Moshions (Ruanda, de Moses Turahirwa), Thebe Magugu e Sindiso Khumalo, ambas da África do Sul, também compõem a exposição.

São mais de 250 objetos, dos quais aproximadamente 80 farão parte do acervo permanente do V&A. Os objetos da coleção do museu são apresentados com curiosidades de bastidores, além de notas pessoais dos designers. Também aparecem croquis, editoriais de revista, fotos, filmagens e imagens de passarela. O ponto de partida da mostra foi pautado pela cronologia, reforçando a individualidade de cada país no renascimento cultural após a radical reordenação política e social em todo o continente.

Entre os highlights, fotografias, um vestido de algodão e latão do estilista Alphadi (de origem maliana, mas fez carreira na Nigéria), dado de presente ao museu pelo próprio estilista, e uma nova peça projetada pela Maison ArtC, do Marrocos, exclusivamente para virar peça do museu.

A montagem traça um paralelo entre glamour e a política em um cenário tão diverso e variado quanto o próprio continente. A faixa condutora é a centralização da África, primeiro plano de múltiplas e variadas vozes e perspectivas sobre o continente. “Escolher itens que não podem faltar é difícil, pois todo o trabalho exposto é inspirador.” Por ter sido pensada e concebida durante o lockdown severo (por conta do Covid-19), os curadores só foram ver as peças e acessórios, pegá-los na mão, quando chegaram ao museu. “Houve algumas surpresas boas, como, por exemplo, as pérolas nas calças Lisa Folawiyo”. Foram dois anos até a mostra ganhar corpo e, agora, o público. “Está enraizada em décadas de pesquisa sobre a relação entre moda, cultura e raça”, pontua Christine.

Tão logo fechar as portas no South Kensington, a intenção é que “Africa Fashion” faça uma tour pelo mundo – ainda sem destinos divulgados. As mais de 80 peças adquiridas que vão fazer parte do acervo permanente do museu poderão ser vistas nas galerias do V&A Storehouse a partir de 2024.

Africa calling

Dividida em dois andares, a expo apresenta dois períodos históricos: no piso térreo, a independência africana e a era da libertação são protagonistas. Vai dos anos 1950 até 1990. Segundo a curadora, foi uma época quando a moda, a música e as artes visuais olhavam para o futuro autogoverno, com uma independência de espírito inesquecível, refletida no trabalho dos criativos contemporâneos da África, expostos no mezanino.

“Para mim, ‘Africa Fashion’ não é só uma mostra, é uma parte importante do compromisso do museu em olhar o trabalho de criativos africanos e da diáspora africana e nos fará aumentar significativamente nossa coleção nesse segmento”, garante. “Também estabelece as bases para projetos futuros, à medida que continuamos a trabalhar de forma colaborativa para desenvolver coleções e exposições de relevância para pessoas de todas as culturas, todos os setores da sociedade e todas as perspectivas.”

No andar de baixo, um conjunto do costureiro Imane Ayissi – uma deslumbrante roupa de seda rosa fúcsia e ráfia camaronesa de seu desfile Outono/Inverno 2019 –, um top exuberante com franjas e drapeados e sem costas, acompanhado de uma elegante calça feita sob medida. “O trabalho de Ayissi fica na intersecção dos sistemas de moda, conectando a África e sua diáspora global, quebrando a fronteira entre o artesanal e a alta costura”. Além da mostra, eventos musicais, mesas de discussão e workshops estão previstos até 2023.

Fonte: Haper’s Bazar

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