No último domingo, 11 de outubro, Alaíde do Feijão, (figura famosa da culinária e cultura negra baiana) foi homenageada num Festival intitulado Afro-raízes, realizado no Pelourinho/Centro Histórico da cidade de Salvador.
O evento contou com a presença e participação do Presidente da Fundação Palmares, João Jorge Rodrigues, Antônio Carlos dos Santos Vovô, Presidente do Ilê Aiyê, Vadinho França, Presidente do mais antigo Bloco de Samba da cidade e gente do mundo da política (deputados estaduais/federais, Secretários/as, além de inúmeros artistas, como Juliana Ribeiro, Olodum, Ilê Aiyê, Tonho Matéria, Cumpadre Washington dentre outros.
Alaíde do Feijão, ao longo dos seus 73 anos de existência (faleceu vitima da Covid em 31 de janeiro de 2022), deixou um legado impactante, profundo e simbólico, não apenas na Bahia, mas no Brasil. Legado este que é a cara e o coração da presença negra no país.
Legado que representa o acolhimento, a cidadania, a resiliência e sobretudo a militância no combate ao racismo e na promoção da igualdade racial. Até porque ela era a um só tempo, liderança comunitária, ativista do movimento negro e de mulheres e uma matriarca do movimento cultural.
Alaíde, era de uma singularidade fantástica e fez do seu talento na cozinha, (era uma eximia cozinheira), função herdada de sua mãe, Dona Das Neves, muito mais que um espaço de sobrevivência, com o qual criou seus filhos, ajudou seus netos e amigos/as e encheu a barriga de muita gente que tinha fome.
Alaíde construiu uma teia de relações políticas, sociais e culturais única, que ganhou dimensão nacional, transformando o seu espaço comercial numa referência de ativismo que respeitava a pluralidade e a diversidade dos seus clientes/amigos/as,
O Restaurante de Alaíde, como era chamado carinhosamente o seu espaço no Pelourinho, desde 1993, era também o local das discussões acaloradas sobre a política, onde as lideranças do movimento negro baiano/brasileiro se reuniam para traçar suas estratégias, assim como era o espaço onde os blocos de carnaval, em especial os blocos afros se reunião para discutir suas demandas. Até porque Alaíde do Feijão era uma carnavalesca de primeira. Sambava como ninguém, além de ser dirigente de vários blocos de carnaval.
Era comum se ouvir em Salvador – “Quer saber o que está acontecendo no movimento negro, vá comer em Alaíde do Feijão”.
Com o tempo o restaurante de Alaíde, transformou-se em passagem obrigatória dos políticos locais e nacionais. Por lá passaram figuras como o Presidente Lula e a Presidente Dilma Roussef, com direito a ouvir comer sua feijoada e ouvir conselhos da matriarca.
Também passaram por lá passaram, não poucas vezes, o Governador de Pernambuco Eduardo Campos, os Governadores da Bahia, Jacques Wagner, Rui Costa e Jerônimo, além da hoje Ministra da Cultura Margareth Menezes que era uma amiga do peito de Alaíde.
Artistas como, Genival Lacerda (falecido), Lázaro Ramos, Zebrinha, Antônio Pompeo (falecido), e Zezé Mota e tantos outros, a visitavam todas as vezes que estavam em Salvador.
Detalhe interessante, Alaíde tinha um olhar cuidadoso por cada uma das pessoas que a reconheciam e a reverenciavam. Exemplo disso, era a forma especial com que tratava o seu “filho paulista”, o jornalista Maurício Pestana – CEO da Revista Raça. Todas as vezes em que ele a visitava. Ela ia pessoalmente para a cozinha preparar a sua iguaria, por saber que ele tinha “tripa fina” e não conseguia saborear as comidas mais condimentadas da culinária baiana.
Enfim, Alaíde do Feijão, era um luxo só na sua inteireza enquanto mulher negra, cidadã plena e consciente dos seus direitos.
Toca a zabumba que a terra é nossa!
Essa publicação é fruto de uma parceria especial entre a Revista Raça Brasil e o Fórum Brasil Diverso, evento realizado pela Revista Raça Brasil nos dias 10 e 11 de novembro, que celebra a diversidade, a cultura e a potência da música negra brasileira. Não perca a oportunidade de participar desse encontro transformador — inscreva-se já https://www.sympla.com.br/evento/forum-brasil-diverso-2025/2917932?referrer=forumbrasildiverso.org