Alemanha e o seu primeiro experimento nazista na África: O genocídio na Namíbia

Colunista: Zulu Araújo

Assim como a Itália, a presença da Alemanha no continente africano não foi das mais expressivas, durou pouco mais de 30 anos. Mas o resultado da suas ações foram absolutamente trágicos e traumáticos, em particular para a Namíbia, que foi vítima do primeiro genocídio do século XX, no mundo.

Os germânicos se fizeram presentes na África a partir da Conferencia de Berlim, (1884/85) liderada por seu chanceler Otto Von Bismarck. A partir daí, foram presenteados com os territórios do Togo, Camarões, Tanzânia, Ruanda, Burundi e Namíbia.

Com o advento da primeira guerra mundial, na qual a Alemanha é derrotada, teve como uma das consequências a perda dos seus territórios africanos e sua redistribuição para os ingleses e franceses.

Fosfato, café, cacau e algodão eram alguns dos produtos explorados pelos alemães no continente africano, por meio da Associação Colonial Alemã, empresa criada para ser a responsável pelas explorações.

O curioso, é que o Chanceler alemão Bismarck, justificava a presença alemã na África, não pela exploração impiedosa dos seus recursos naturais e dos nativos, mas pelo dever civilizatório.

Esse “dever civilizatório” levou ao genocídio de aproximadamente 70 mil africanos, entre 1904 e 1908, das etnias hereros e namas, que habitavam o território da Namíbia.

A Alemanha esteve presente na Namíbia de 1884 a 1915, período em que fizeram os primeiros experimentos nazistas do século XX.  Em nome da civilização, eles implantaram os primeiros campos de concentrações do mundo e os trabalhos forçados. Mais que isso, cometeram estupros em larga escala de tal ordem, que ainda hoje existe uma comunidade de aproximadamente 30 mil descendentes de alemães entre os namíbios.

Além disso, promoveram a expulsão em massa dos hereros e namas das suas terras, obrigando-os a irem para o deserto de Kalahari, onde morriam de fome e sede, ou ficarem confinados em campos de concentração como o de Shark Island. Tudo isso sob o olhar complacente dos civilizados europeus e demais potencias mundiais. 

Quando os hereros e namas se rebelaram, os alemães enviaram para a Namíbia um exército de mais de 14.000 homens, super bem armados, sob o comando do General Lothar von Trotha, que determinou o seguinte:

“Eu, general dos soldados alemães, mando esta carta aos herero. A nação herero deve deixar o país… Se recusarem, eu os forçarei com tiros de canhão… Qualquer Herero, com ou sem armas, será executado.

E assim o fizeram. Foi uma verdadeira carnificina. 70 mil mortos, sendo 60 mil hereros e 10 mil namas.

Não satisfeitos, enviaram restos de ossos e crânios das vítimas desse genocídio para a Alemanha, para que fossem realizados experimentos científicos que comprovassem a superioridade da raça branca e o acerto da sua política colonial.

São esses experimentos, realizados com os africanos, conduzidos pelo médico Eugen Fischer que vão, mais adiante, influenciar Hitler na seu embate com os judeus. 

Recentemente (2021) o governo alemão, assumiu a sua responsabilidade pelo genocídio e ofereceu indenização de aproximadamente 1 bilhão e 100 milhões de euros, além do pedido de perdão feito pelo o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas: “À luz da responsabilidade histórica e moral da Alemanha, vamos pedir perdão à Namíbia e aos descendentes das vítimas pelas atrocidades cometidas”.

Apesar desse gesto, o governo da Namíbia, considera insuficiente a postura alemã, pois além dos recursos serem irrisórios, o pedido de desculpas não foi um ato oficial do governo alemão e nem de longe minimizará os estragos históricos cometidos contra os hereros e namas. A gravidade do genocídio cometido na Namíbia, foi tamanha, que o povo herero que representava 40 % da população, foi reduzido a apenas 7% nos dias atuais.

Enfim, esse é mais um exemplo clássico de que até mesmo no reconhecimento das suas atrocidades no continente africano, os europeus mantém a discriminação.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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