Alimentação saudável como prática ancestral
Pensando sobre a importância de manter uma alimentação saudável, ativistas estão trabalhando para incentivar o consumo de alimentos naturais com base na filosofia africana.
No início da pandemia, em março de 2020, com a determinação de isolamento social e o fechamento dos chamados serviços não essenciais, muitas pessoas perderam emprego e renda. A demora para a liberação de um subsídio governamental para socorrer a população devolveu ao mapa da fome milhões de brasileiros e hoje o cenário é um dos piores que já vimos. A Rede Brasileira de Pesquisa e Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional realizou o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil e identificou que nos últimos meses de 2020, mais da metade dos lares brasileiros enfrentou algum grau de insegurança alimentar e que 19 milhões de brasileiros passaram fome.
A Austin Rating realizou um levantamento com base em projeções realizadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que aponta que o Brasil deve ter a 14ª maior taxa de desemprego no mundo em 2021; em 2020, o país ocupava o 22º lugar. Com perspectivas negativas sobre a situação econômica do país, a preocupação com o acesso dos brasileiros à alimentação saudável é ainda maior, em especial à população negra, que é a mais atingida com o descaso dos serviços públicos.
Diante desses cenários, a mobilização para que as pessoas não tenham apenas comida na mesa, mas também saibam que se alimentar de forma saudável é possível mesmo com pouco dinheiro, e aumenta entre pessoas negras que encontraram na ancestralidade o caminho para viver com mais saúde.
Conscientização e cuidados ancestrais
O casal cadense makini e amani kish , moram em salvador , na bahia são responsáveis pela criação da kiube Ixi, uma plataforma familiar desenvolvida com o objetivo de compratilhar sabores ancestrars para que os negros em diaspora possam restaurar sua identidade e legado cultural.
o projeto reconhece a interconexão humana com a natureza e oferece serviços que incluem práticas de cuidados originários dos povos africanos, entre eles o cultivo de energia, kemetic yoga, aromaterapia, alimentação i-tal, além de realizar a jornada da saúde holística que completou um ano de atividade em abril de 2021. Adaptada para acontecer remotamente por conta da pandemia, a jornada selecionou cinco pessoas pretas e indígenas que estavam passando por questões emocionais e psicológicas para receber, durante oito dias , ensino teórico e prático de tecnologias ancestrais de autocuidado a partir da filosofia africana.
A preocupação com saúde, bem estar e autocuidado se intensificou nesse período. O neurologista americano Carl Hart apontou que durante a pandemia, o álcool e a cafeína se tornaram as drogas psicoativas mais consumidas. Já o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (NEPA) , unidade gerida pela Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares De Pesquisa da Unicamp (Cocen/Unicamp), mostra que pessoas com excesso de tarefas relataram aumento de aproximadamente 40% no consumo de delivery de fast-food e 34% no consumo de delivery de comida pronta.
Geralmente, esse tipo de comida é preparada com alimentos processados e com temperos artificiais, que carregam grandes quantidades de sódio e não oferecem benefícios para o organismo. Os dados chamaram a atenção dos fundadores da Kiumbe Ixi, criando um alerta sobre os impactos psicológicos de alimentação causados durante o isolamento social. “A situação atual é um convite para utilizarmos as ferramentas de auto integração e cura deixadas pelos nossos ancestrais, para que possamos defender a nossa integridade física e a saúde pelna”, comenta a Terapeuta Candace Makini.
A alimentação I-tal, tem base na dieta adotada pelos rastafaris jamaicanos que entendem que o alimento deve ser cultivado e consumido com respeito por ser uma forma de conexão com a natureza, além de contribuir com a cura do corpo. O consumo de alimentos naturais, puros e da terra , está na base dessa dieta, que orienta os adeptos a evitar ingerir comidas que tenham sido quimicamente modificadas ou que tenham ingredientes artificiais e sal.
Buscar uma alimentação saudável e natural no conceito i-tal, que significa “Vital”, é uma forma de reconexão com filosofias africanas e seus princípios que consideram o homem como parte da natureza e, portanto, alguém que está conectado a ela e deve respeitar os ciclos e também um incentivo contra o sistema capitalista de produção e exploração dos recursos naturais.
Periferia e consciência alimentar
Quando as pessoas pensam em alimentação saudável costumam pensar que é necessário comprar alimentos caros e parece algo inacessível.
Na internet, influenciadores e ativistas estão provando que não é preciso gastar muito para ingerir alimentos saudáveis, variados e saborosos.
O perfil do Instagram “Vegano Periférico” costuma compartilhar fotos dos pratos e alimentos consumidos no dia a dia. Eles aparecem compostos por arroz, feijão, legumes, verduras, frutas e hortaliças que podem ser facilmente encontradas nas feiras livres e em supermercados. Assim como o perfil de Luciene Santos, conhecida como @sapavegana, que dá dicas sobre o preparo de pratos com base em alimentos naturais e, nesses dois casos, que não são compostos por alimentos de origem animal.