Aline Midlej em horário nobre

Por Maurício Pestana

Aline Midlej – Foto: João Miguel Júnior

De acordo com informações divulgadas na coluna de André Romano, do Observatório da TV, Aline Midlej está cotada para substituir a jornalista Renata Vasconcellos no comando do Jornal Nacional.

Em 2021, a GloboNews completou 25 anos em uma posição diferenciada no jornalismo brasileiro. A emissora segue em um lugar de liderança no segmento e aposta em uma mulher negra como âncora do seu principal jornal. A talentosa Aline Midlej é a atual apresentadora do Jornal das Dez.

Conheça um pouco dessa jornalista bastante conhecida no jornalismo mineiro pelas aparições no Bom Dia Brasil, ela também ocupa bancada do Jornal Nacional aos finais de semana e feriados, integrando o time de âncoras que substituem William Bonner e Renata Vasconcellos no horário nobre da Rede Globo.

RAÇA – Como você vê o novo momento de negros e negras no jornalismo brasileiro?

Aline Midlej – Um momento de maior visibilidade, de mudança de olhar, sem dúvida. Mas ainda é uma pauta e não deveria ser. Esse é nosso norte, a naturalização de negros na televisão, em posições de decisão. Na notícia, nos caminhos do jornalismo. Na frente e por trás das câmeras, como executivos, tomando decisões. Isso ainda é muito distante.

RAÇA – Você chega muito jovem ao cargo de âncora no principal jornal da GloboNews. Como você aceitou essa responsabilidade?

Aline Midlej – Aceitei com muito entusiasmo e já consciente do peso da reputação do ‘Jornal das Dez’. honrar o legado de colegas admiráveis que estiveram antes naquele lugar e, ao mesmo tempo, imprimir minha assinatura com confiança e espontaneidade. Acho que estamos num bom caminho. 

RAÇA – A GloboNews faz 25 anos. Hoje os desafios são maiores, pois vocês não são mais o único canal de jornalismo 24h. Como reinventar e encarar este novo momento da televisão e do jornalismo?

Aline Midlej – O surgimento de novos concorrentes traz novos estímulos e reflexões. No caso da GloboNews, tem reforçado o papel já consolidado do canal como grande formador de opinião e antenada nas principais coberturas jornalísticas. 

RAÇA – Conte um pouco sobre sua história de vida e por que você escolheu o jornalismo como profissão.

Aline Midlej – Sou filha de nordestinos, nasci no Maranhão, mas fui para São Paulo muito pequena. Meu pai, engenheiro civil, minha mãe, dona de casa, viveram e trabalharam por nós (somos três irmãos), pelos nossos estudos. Na capital paulista me desenvolvi, me tornei quem sou: uma pessoa curiosa, habilidosa na escrita, interessada pelas pessoas e comunicativa. Havia uma preocupação inicial dos meus pais com a estabilidade da carreira de jornalista, mas mudar essa posição foi questão de tempo. Hoje moro no Rio de Janeiro.

RAÇA – Você acha que a carreira de jornalista, principalmente da televisão, é mais difícil para mulheres negras?

Aline Midlej – Os contextos de oportunidades sempre tendem a ser mais hostis para as mulheres negras no Brasil, em qualquer ambiente. No jornalismo televisivo, para quem está ou deseja estar no vídeo, o fator “padrão estético” vai se alterando aos poucos. Hoje os caminhos estão um pouco mais alargados, mas ainda mais tortuosos e exigentes.    

RAÇA – Qual o significado ou a simbologia de estar estreando como âncora do principal jornal de uma emissora que está completando 25 anos?

Aline Midlej – Gratificação, orgulho e fortalecimento.

RAÇA – O momento político no Brasil é muito delicado. Você já teve algum conflito por estar em uma emissora que frequentemente é atacada por esse governo?

Aline Midlej – Nunca tive. O jornalismo sempre será uma vidraça exposta, é do jogo. Nosso foco sempre será o interesse público. Com o tempo você vai desenvolvendo habilidades para lidar com aqueles que só querem tumultuar, disseminar desinformação. Isso independe de governos. 

RAÇA – As redes sociais hoje, em alguns casos, se constituem como o “império do mal”. Você já foi vítima de ataques? Se não foi, como você acha que devem ser tratada essas situações?

Aline Midlej – Nunca fui vítima de um ataque direto. Mas a violência num país ainda tão racista como o nosso vem de variadas formas. Acho que o tratamento vai depender do nível e da forma de agressão. Racismo é crime e deve ser tratado como tal, na justiça. 

RAÇA – Mais de 70% do nosso público é feminino. O que você diria para as meninas que se inspiram em você e querem ser uma Aline Midlej?

Aline Midlej – Estudem! E acreditem que merecem e podem se realizar fazendo o que amam. Fujam de pessoas que não valorizam seus potenciais e talentos, se cerque de quem fortalece e estimula. Cada mulher negra que se movimenta leva toda essa ancestralidade, e quando você consegue sentir isso é transformador.

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